O Maior Enigma da Ciência: o homem (P. Brunton)

Vivemos num globo que turbilhona vertiginosamente no espaço e cuja posição está marcada em algum lugar do grande céu entre Vênus e Marte. Há neste fato alguma coisa que provoca o riso, mas que também dá o que pensar.
Embora a distância que nos separa desses dois astros seja tão imensa que confunde a imaginação, o homem a calculou com uma exatidão surpreendente e, no entanto, esse homem é incapaz de medir o alcance da sua própria mente! Ele é um mistério para si próprio, um enigma que permanece insolúvel até a hora em que o frio abraço da morte chegue, gelando seus ombros...
Não há nisso uma ironia? Pensar que a alma do homem é menos acessível às pesquisas do que a terra onde mora! Não é surpreendentemente estranho que o homem esteja tão absorvido em estudar a face do mundo que só em época relativamente recente haja pensado em conhecer o mundo que está nele?
Por que ele se preocupa tanto com a marcha do universo que, além do mais, não cabe a ele dirigir, enquanto ele deve dirigir-se a si mesmo?
O sistema solar gira muito bem sem sua ajuda... Vive! Morre! O universo não se alarma, nem se altera... Escreveu Zangwill, o inteligente e sábio pensador.

O homem, porém, não aprecia muito essa verdade mordaz, porque sabe mais coisas sobre o funcionamento do seu automóvel do que do seu próprio ser. No entanto, os antigos ensinaram e sábios do nosso tempo confirmaram que no imo da consciência existe um veio do mais puro quilate, veio de ouro resplandecente!
Não será então mais sábio se fizermos dessa busca nosso primeiro cuidado?
Comparados com outros resultados já obtidos, a Ciência tem pouca noção no que diz respeito ao homem. Descobriu como temperar metais, lançar bombas de meia tonelada sobre cidades vizinhas e mil outras coisas de menor relevância. A descoberta da Física conheceu, durante os três últimos séculos, uma aceleração estupenda, enquanto o conhecimento sobre o homem permanece ainda na retaguarda.

Sabemos construir pontes gigantescas que atravessam rios volumosos, porém não sabemos dar um passo para resolver esse simples problema: "QUEM SOU EU?"
Nossas locomotivas percorrem terras do mundo inteiro, mas nossa mente não sabe transpor o mistério do homem. Astrônomos chegam a captar com a objetiva de seu telescópio as mais distantes estrelas, mas se nós lhes perguntássemos se conseguiram dominar suas paixões, em resposta baixarão a cabeça, confusos. Somos cheios de curiosidades em saber tudo a respeito do nosso planeta, mas ficamos indiferentes quando se fala do nosso eu profundo. Temos acumulado informações extremamente minuciosas sobre cada coisa que vemos, conhecemos, e sobre o funcionamento, a qualidade e a propriedade de todos os corpos e fenômenos terrestres. Mas não conhecemos a nós mesmos!

Até aqueles que se aprofundaram em todas as ciências existentes, ignoram os rudimentos da ciência do "Eu". Os cientistas que descobriram o porquê e do como da vida dos micróbios não conhecem o porquê nem o como da sua própria existência! Sabemos o valor de cada coisa, mas ignoramos nosso próprio e inestimável valor!
Enchemos enciclopédias de milhares de páginas com milhões de informações sobre todas as coisas, mas quem pode redigir um compêndio sequer que trate do mistério do seu próprio ser? E por que razão o que mais nos interessa é a nossa própria pessoa? Porque a "pessoa" é a única realidade da qual estamos certos. Todos os fatos da vida que nos rodeiam, todos os pensamentos íntimos do nosso ser só existem para nós quando o nosso "Eu" os percebe. O "Eu" é a última essência... A primeira noção que temos de nós e será a derradeira que conheceremos ao chegarmos a ser sábios. A verdadeira sapiência, a luz do intelecto, nos vem de dentro da esfera do "Eu". Não podemos conhecer o mundo e saber acerca das coisas senão através de certos instrumentos e dos nossos sentidos. Todavia, quem os interpreta e os utiliza é o nosso "Eu".
Somos, portanto, obrigados a reconhecer que o estudo do "Eu" é o mais importante ao qual um pensador deve dedicar-se.
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