Do Amor - K. Gibran


Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor...”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão, um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.

Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol, assim também desce até vossas raízes e as sacode no seu apego à terra.

Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o Amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações.
E, com esse conhecimento, vos convertais no pão místico do banquete divino.

Todavia, se no vosso temor, procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor...
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.

O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.

Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.

Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

Visita à Astral Moradia do Suave CintiLar


Amanhecer de um sonho.
Ao interior da casa, em seu espaço maior e desimpedido da sala, uma opaca invisibilidade se apresenta, ali, na compacta vastidão de sua presença.
Aqui, a simples presença desta própria.
Assim.
As paredes translúcidas que a cercam são também invisíveis.
Ah sim!
A transparência extrema de uma parede ao seu contorno. Contorno transbordante. Flauteante.
Ainda uma porta, uma brilhante porta nesta parede.
Adentro da invisível transparência, vê-se o Brilho da passagem.
A Luz lúdica que flutua de superfície a superfície está cantarolando calminha e silenciosa, há um tom de 'frio na barriga' divertido num corpo que simplesmente não tem barriga, num calor que não há frio. De um Corpo que não tem corpo.
A lúdica lucidez da Luz vai se translucidificando...

Minha consciência pura contempla.
Meu ponto de percepção é a parede de meu ponto de origem. Origem sem pontos...
Monstros ao longe tão distante.
Máscaras os são, que observam ao chão.
Me não-observam, pois não-observam a consciência pura, simplesmente por não-Me-observarem...
Mínima é a mudança, mas mudança não é a mínima.
Mudança sem medida, desmedida. Desmentida, esclarecida.
Mundo a clarear, neste suspenso clarear, desta Presença clara, clareante neste recinto, eis que sinto.

Os cômodos não-incômodos da moradia contente de acordar.
O raiar dos raios de sol, misteriosos raios clareadores, interpenetram recônditos ocultos e até os ocultos mais recônditos, constituintes.
Os aposentos, os quartos, os terços, os segundos do tempo, a primosia levanta fulgores macios de harmonia, o frio da barriga que se torna o lindo calor no coração, tomado por encantada sensação. Casa limpa. O silêncio reflete aquele tal som, de cintilância definida a ecoar, seus ecos definidos, sumindo, e eu vou sumindo junto aos ecos que me levam, sublime aconchego.

Raiou Luz. E eu vi raiando...

Do Matrimônio (K. Gibran)


“Vós nascestes juntos, e juntos permanecereis para todo o sempre.
Juntos estareis quando as brancas asas da morte dissiparem vossos dias.
Sim, juntos estareis até na memória silenciosa de Deus.
Mas que haja espaço na vossa junção e que os ventos do céu dancem entre vós.
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão: que haja antes um mar ondulante
entre as praias de vossas almas.
Enchei a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.
Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho, assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia. Dai vossos corações, mas não os confieis à guarda um do outro. Pois somente a mão da vida pode conter vossos corações. E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia; pois as colunas do templo erguem-se separadamente, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.”

O Tempo Minimômento


(Do baú... maio/2009 - John Lucas)

Tempo no Universo, adentro
Tempo dentro, do Universo
Une o tempo nos versos
Verso une tempo
Vento, verso, dentro, desverso, universo, tentro, dempo, multiverso afora

Universo Momento, mundo, dentro, tempo, mundo, momento
Universo respira, respira em respiração... Para o mundo profunda respiração.
O Tempo engole o Momento, mas o momento é sempre momento e não muda de forma, porque ao ser engolido, está no momento engolido, e o momento é que está em momento.
A casca do momento! Um instante do plasma momentâneo na teia do tempo, que suga a mudança, o momento plasmático...

Momento Unificado
Não pode ser prolongado
Assim entrando no tempo
Do olhar acelerado

O momento transcende o tempo
No momento não existe ar, não existe vento
No momento Sou Eu Sou, o Sol em instrumento
Instrumentando por amor, por amor, por amor

Nem coisas existem, as coisas são coisas
O abstrato perfura o concreto
Com a violenta suavidade que vai necessitar
O que tem que ser? Não tem que sentir.
Já É, já. Só Seja. Vamos sendo.
Sendo, sendo, posso estar nem vendo
Vou acendendo a chama que estou sendo
Sol que este Sou que estou sendo
Que estou Quietos! - acendo amor, sendo o Ah!
Acendo amor radiante
Sendo amor, muito amor
Somos poucos pro amor

Suficientes
Porque é o amor que nos contêm
Contem com tempo, tempo que não existe
Somos nós formados de amor, amor que flameja existência
Amor dos meus planetas
Os planetas do meu amor

Nos anéis de fogo e do ar. Da água e do vento.
E o campo sutil ao qual o amor comporta.
Poesias são apenas o pedaço poético
Degraus que vão até certo ponto


O ponto fundamental!


.



Vamos, para a floresta, floresta, esta floresta, está nesta, não resta floresta, esta flor!

Aquelas flores brancas na margem do rio, do rio do tempo, do tempo alegre.
A cachoeira é o templo do tempo. A correnteza que salta das alturas e deságua pelas próprias águas, que se abraçam firmes. Deságuam pelas pedras a rolar, pela vegetação a acariciar.

Caminho com cuidado, e vou adentrando pela chuva de inspirações que preenchem a esfera de minha mente. O silêncio é suave e fino, em cima do aglomerado sonoro que é a própria cachoeira caindo! Uma cachoeira de sons! Caminho contra a correnteza, de encontro ao pé da queda cristalina. Olho ao redor, a correnteza atravessando minhas pernas.
É o tempo... Ta voltando tudo pra trás e eu to aqui quieto em fino instante agora!

Ondas da água do tempo, que alimentam aqueles que são alimentados pelo tempo.
Que alimentam aqueles que são alimentados por ele.
Alimenta o que é alimentado.
Eu avanço no tempo, pois, estou agora neutro. Enquanto estou num único ponto do tempo, o Agora, o tempo vai correndo pra trás, correndo pra trás, mas estou vivo agora e o futuro se abre o tempo todo. Eu sou o Agora. O futuro vem pra trás. O vento traz, a água leva!

Ondas do ar do vento, que congelam meu corpo, gotinhas infinitas em meus poros infinitos, expandindo. A água que jorra das quedas é quase ar, mas há muita água também. A água viaja no ar e se torna ele. E o ar se torna o mais profundo ar!
Vou caminhando, escalando pedras, acompanhando o verde da floresta que guarda a água que mora neste coração da natureza! Sento no alto de uma pedra alta para amar.

Lá no sol da galáxia explosões gigantes bailando discretas. Aqui recebo como grande calor, que me aquece, me esquenta. Calor único, que não varia. Roupas e roupas protegem meu corpo da radiação cósmica.
No alto da pedra, abaixo de árvores diferentes que sobem um morro muito alto, mas tão mais alto.
No alto da pedra aqui embaixo, com as flores brancas, folhas verdes, do outro lado da alegoria da água.
No alto da pedra, com diversas borboletas em sua bem-aventurança, e os insetos conscientes do que são. Ouço o som do tempo que desmancha na matéria, na matéria que molha que refresca em sua transparência. Tão transparente que não fica quente, ela gela.
No alto da pedra o calor do deserto, o calor carregado no ar, com as manchas de frio saltando do ar, consumindo novos ares.
Minha pele grita para mim. Consciência além dessas fronteiras, pois aqui não é a nossa dimensão. Mas há os sinais de onde somos. Se a face da alma sente algo, o leva até nisso que se sente, porque veio de algum lugar. Vamos pra esse lugar. Seja o lugar, e descanse... e de onde este lugar surgiu? Mergulhe mais, viva mais.


Para Agora é o Sempre, não existe outro sempre.
Ou não haveria de vivenciar o Infinito.

Poesia Naturezina



(Do baú... junho/2009 - John Lucas)

Na brisa leve que se esconde no luar
Paira no silêncio da floresta a poesia
No interior deste silêncio, sagrado altar
Semeou-se vida, semeou-se a sintonia
Cada instante de natureza, cada gota no tempo
Paira no silêncio da floresta a poesia
Acompanhando a noite e o dia, é o vento
Espalhando a poesia!

E com ela, abre-se de novo um novo dia
Através do florescer, amanheça harmonia
Ah Mãe, essa harmonia... Amanhece a poesia
Mãe Natureza em seus altares a prosperar
Amando cada filho, seres em qualquer lugar

Na luz que abre as cortinas das nascentes
Semeando rios na pureza das sementes
Raízes respiram terra, terra respira chuva
A vida está no Espírito que vive natureza
Vive natureza porque vive a vida
Vive a vida porque é o Espírito

Espírito é presente, no silêncio de cada chuva
Na chuva de cada tormenta
No silêncio dos mares, no silêncio dos desertos
Na divina alegria, que planta em caminho aberto
Natureza de cada um é a natureza
A minha natureza e a sua natureza
Nós a somos. Somos o Espírito

Quem nos guarda é natureza
Quem nos vive é Espírito

Em crescimento e consciência
Das árvores que crescem por todo lugar, porque lugares guardam vidas, guardam árvores e seus galhos que tomam todos os caminhos no lugar que se vive
E em cantoria lá estão os passarinhos
Na poesia que celebram, das folhas que protegem seus ninhos
Seus novos filhotinhos
Semeados pela vida que vive a si própria
Pela vida da luz que vive na consciência viva do Espírito

Por onde semeia sua amada poesia
No “onde” que também é espírito

No espírito que também é poesia...

SER (Ramana Maharshi)


"A realização consiste em desvencilhar-se da ilusão de crer que você não está realizado."

"Todos nós temos que voltar a nossa fonte de origem. Todo ser humano está procurando sua fonte e, um dia, deve chegar a encontra-la. Viemos de dentro, andamos fora e agora devemos voltar para dentro. Que é meditação? É o nosso real estado de SER. Nós mesmos o temos encoberto de pensamentos e paixões. Para descobrir-nos e livrar-nos destes, temos de concentrar-mos num só pensamento: SER."

"Não é preciso ter uma ajuda. Você já está no seu estado original. Pode alguém ajuda-lo a chegar onde você já está? A ajuda dada, realmente, é para esclarecer-lhe as suas noções erradas a respeito. Os sábios ou mestres podem lhe ajudar somente em erradicar os obstáculos no seu caminho."

"Uma criança e um sábio, de certo modo, se assemelham. A criança cessa de pensar nos incidentes logo após eles terem passado. Com isto demonstra que eles não deixaram impressão profunda na mente da criança. O mesmo ocorre com o sábio."

"Não há sequência de tempo dentro do verdadeiro desenvolvimento espiritual. Você é espiritual aqui e agora. Não se engane a si mesmo, não se deixe apanhar na armadilha mental de planos, graus de evolução, estados de ser, etc... Não se deixe afagar com estes falsos e limitados informes. Você é um SER espiritual. Seja ISTO!"

"O mundo é infeliz por causa da sua ignorância do verdadeiro Ser. A verdadeira natureza humana é a felicidade. A felicidade é inata no verdadeiro Ser. A procura da felicidade pelo homem é uma procura inconsciente pelo verdadeiro Ser. O verdadeiro Ser é imperecível; portanto, quando alguém O encontra, encontra a felicidade a qual não tem fim. No interior da cavidade do coração, o Ser Supremo Uno, está sempre emitindo a emanação da auto-consciência 'Eu' ... 'Eu'."

Em Busca da Pérola da Eternidade


Como um mergulhador que desce ao fundo do mar, em busca da pérola, arriscando a vida pelo gozo transitório, deves tu também penetrar fundo em ti mesmo, em busca da eternidade.
Como o audaz alpinista, que escala e conquista os altos cumes, deves tu também ascender àquela altura vertiginosa de onde todas as coisas são vistas em suas verdadeiras proporções.
Como o lótus que, rompendo o lodo, ao céu se eleva, deves tu também arredar todas as coisas transitórias, se queres descobrir aquele Reino da Felicidade.
Como a árvore majestosa, cuja força depende de suas raízes e alegremente enfrenta os vendavais, deves tu também assentar profundamente em ti mesmo tua força oculta, para enfrentar as vicissitudes do mundo.
Como a rápida corrente conhece a sua nascente, deves tu também conhecer teu próprio ser. Como manso lago azul de ignota profundidade, deve ser insondável a tua profundeza.
Como o mar encerra uma multidão de seres vivos, em ti jazem ocultos segredos de todos os mundos. Como na encosta da montanha, em altitudes várias, diferentes flores crescem, assim também em ti existem gradações de beleza.
Como a terra em seu seio abriga Tesouros que o homem jamais viu, em ti jazem ocultos ignorados segredos.
Como a imensa e inesgotável força dos ventos, em ti reside imensa e inesquecível energia.
Como os cumes das montanhas alegrados ao sol, deves tu exultar na luz do conhecimento de ti mesmo.
Como a trilha tortuosa da montanha descortina a cada instante vistas novas, assim também em ti há uma revelação constante.
Como a estrela remota a cintilar em noite escura, é aquele que descobriu a si próprio.

Krishnamurti

Sabedorias de Yogananda (2)


Você é uma centelha da Chama Eterna. Você pode ocultar a centelha, mas jamais poderá destruí-la.


A humanidade está engajada numa eterna busca por que ela acredita que alguma coisa além lhe trará felicidade, preenchimento e eternidade. Para aquelas almas que procuraram e acharam Deus, a busca terminou: Ele é aquela Alguma Coisa Além.


Assim como você não pode transmitir uma mensagem através de um microfone danificado, também não poderá enviar preces ao Pai Celestial através de um microfone mental que esteja desarmonizado pela inquietação. É através da profunda tranqüilidade que você pode consertar seu microfone mental, aumentando a receptividade de sua intuição. Aí então você será capaz de efetivamente irradiar para Ele e receber as Suas respostas.


A pesquisa interior não tarda em mostrar uma unidade em todas as mentes humanas: o forte parentesco dos motivos egoístas. Pelo menos nesse sentido, revela-se a fraternidade dos homens.


A felicidade que as pessoas procuram neste mundo não dura muito. A Alegria Divina é eterna. Anseie pelo que é duradouro, e seja firme em rejeitar os impermanentes prazeres desta vida. Você precisa ser assim. Não deixe que este mundo o controle. Nunca se esqueça que o Senhor é a única realidade… Sua verdadeira felicidade está na sua experiência dEle.


O homem que está sempre inquieto e nunca medita acredita que com ele está “tudo bem”, porque ele se acostumou a ser um escravo dos sentidos. Ele só perceberá sua verdadeira condição quando nele despertar um desejo espiritual e ele tentar meditar e se acalmar; então, naturalmente, ele encontrará uma feroz resistência por parte dos maus hábitos de inconstância mental.


Um segredo para o progresso é a auto-análise. A introspecção é um espelho no qual se vê os recônditos da mente que, de outra forma, permaneceriam ocultos. Faça o diagnóstico de suas falhas e separe as suas boas e más tendências. Analise o que você é, o que deseja tornar-se e quais são as fraquezas que estão obstruindo o seu progresso.


A renúncia é o sábio caminho trilhado pelo devoto que voluntariamente troca o menor pelo maior. Ele desdenha dos transitórios prazeres sensoriais pela posse das alegrias eternas. A renúncia não é um fim em si mesmo, mas prepara o terreno para o florescimento das qualidades da alma.

Sabedorias de Yogananda (1)


O lugar mais amado por Deus é o templo interior de silêncio e paz de Seus devotos. Sempre que você entrar aqui, neste lindo templo, deixe a inquietude e as preocupações para trás. Se não se despojar delas, Deus não poderá vir a você.


A verdadeira prática da religião consiste em sentar-se quieto, em meditação, e conversar com Deus... A maioria dos freqüentadores de igrejas não consegue ficar sentada quieta por uma hora, a não ser que alguma atividade esteja ocorrendo o tempo todo, para distrair suas mentes.


Não é pela concentração em dogmas que poderemos alcançar Deus, e sim pelo verdadeiro conhecimento da alma... Para mim, não existem judeus, cristãos ou hindus; todos são meus irmãos. Eu presto adoração em qualquer templo, pois todos foram construídos em honra de meu Pai.


Precisamos das "colméias" das igrejas, mas necessitamos também encher as igrejas com o "mel" da nossa Auto-realização... Freqüentar a igreja é bom, mas a meditação diária é ainda melhor.


O que toda religião deveria dar a seus seguidores é a percepção da Verdade, a experiência de Deus - e não meros dogmas.


Ser iogue é meditar. Assim que acorda de manhã, o iogue não pensa primeiro em alimentar o corpo; ele nutre a alma com a ambrósia da comunhão com Deus. Saciado com a inspiração que sua mente encontrou, ao mergulhar profundamente na meditação, está apto para cumprir com êxito todos os deveres do dia.


Nosso empenho deve ser não apenas adquirir segurança financeira e boa saúde, mas procurar o significado da vida. A vida: de que se trata?... Quando pensamos com suficiente profundidade, encontramos uma resposta em nosso interior. Esta é uma forma de prece atendida.


Você agora está limitado; quando, porém, pela meditação diária e profunda, puder transferir sua consciência do finito para o Infinito, será livre. Você não se destina a ser prisioneiro do corpo. Você é filho de Deus e deve viver à altura dessa herança divina.


As pessoas mundanas buscam as dádivas de Deus, mas o sábio busca o próprio Doador.

Da Razão e da Paixão (K. Gibran)


E a sacerdotisa adiantou-se novamente e disse: "Fala-nos da razão e da paixão". E ele respondeu, dizendo:

Vossa alma é freqüentemente um campo de batalha onde vossa razão e vosso juízo combatem vossa paixão e vosso apetite. Pudesse eu ser o pacificador de vossa alma, transformando a discórdia e a rivalidade entre vossos elementos em união e harmonia. Mas como poderei fazê-lo, a menos que vós mesmos sejais também pacificadores, mais ainda, enamorados de todos os vossos elementos?

Vossa razão e vossa paixão são o leme e as velas de vossa alma navegante. Se vossas velas ou vosso leme se quebram, só podereis derivar ou permanecer imóveis no meio do mar. Pois a razão, reinando sozinha, restringe todo impulso; e a paixão, deixada a si, é um fogo que arde até sua própria destruição.

Que vossa alma eleve, portanto, vossa razão à altura de vossa paixão, para que ela possa cantar, E que dirija vossa paixão a par com vossa razão, para que ela possa viver numa ressurreição cotidiana e, como a fênix, renascer das próprias cinzas.

Gostaria que tratásseis vosso juízo e vosso apetite como trataríeis dois hóspedes amados em vossa casa. Certamente não honraríeis um hóspede mais do que o outro; pois quem procura tratar melhor um dos dois, perde o amor e a confiança de ambos.

Entre as colinas, quando vos sentardes à sombra fresca dos álamos brancos, compartilhando a paz e a serenidade dos campos e dos prados distantes, então que vosso coração diga em silêncio: "Deus repousa na razão". E quando bramir a tempestade, e o vento poderoso sacudir a floresta, e o trovão e o relâmpago proclamarem a majestade do céu, então que vosso coração diga com temor e respeito: "Deus age na paixão". E já que sois um sopro na esfera de Deus e uma folha na floresta de Deus, vós também devereis descansar na razão e agir na paixão.

Cortando os Tentáculos (P. Brunton)

Todo aquele que percebe a inferioridade de seu ambiente em relação ao que poderia ser, assim como a imperfeição de sua natureza à Luz de suas possibilidades não desenvolvidas, e que se propõe a melhorar o primeiro e sanar a segunda, deu o primeiro passo para a busca...

Num dia decisivo, ele vai perceber, com pesar, que está preso pelas atividades externas como se fosse por um polvo. Vai então empunhar a faca da determinação penetrante e implacável e cortar de uma vez por todas os tentáculos que o prendem... Os que se interessam por idéias avançadas o suficiente para persegui-las a despeito do desprezo social, assim como os que têm coragem para explorar o que está além das idéias já aceitas, tornaram-se um contingente significativo de buscadores...

A massa é apática diante da Busca: os pobres por uma série de razões, os ricos por outra. Apenas os poucos capazes de ter juízo individual, os pensadores independentes e ousados, serão capazes de se destacar da massa... Ele vai precisar de muita coragem para a Busca, porque será confrontado por dois inimigos poderosos. Um é ele próprio; o outro, a sociedade. No interior de si mesmo, vai ter que travar batalha contra os grandes desejos. No interior da sociedade, vai ter que lutar contra as grandes tradições... Não são muitos os que estão prontos para essa independência de atitude e de vida. É necessário, antes de tudo, certa força interior e, evidentemente, uma disposição natural ou adquirida para desertar do rebanho se necessário.

Quando eu for somente um sonho (P. Yogananda)

Venho para falar Dele a todos,
De como guardá-lo no peito
E da disciplina que atrai Sua graça.
A ti, que me pediste
Guiar-te à presença do meu Bem-amado,
Com minha silenciosa mente te advertirei,
Ou falarei contigo, através de um doce e expressivo olhar,
Sussurrarei baixinho com a voz do meu amor,
Ou te alertarei em voz alta quando te afastares Dele.

Mas quando eu me tornar apenas uma lembrança,
Ou imagem mental, ou voz silenciosa,
Quando nenhum apelo terrestre revelar
Meu paradeiro no espaço insondável,
Quando nenhuma leve súplica ou ordem severa
Trouxer de mim uma resposta,
Sorrirei na tua mente quando estiveres certo,
E quando errares, chorarei através de meus olhos,
Fitando-te veladamente na escuridão.

E chorarei através de teus olhos talvez;
E murmurarei através de tua consciência,
E raciocinarei contigo usando da tua razão,
E amarei todos através do teu amor.

Quando não mais puderes me falar,
Lê meus "Sussurros da Eternidade";
Por meio deles, falarei contigo eternamente.

Incógnito, andarei a teu lado
Protegendo-te com braços invisíveis.
E assim que conheceres o meu Bem-amado
E ouvires a Sua voz no silêncio,
Reconhecer-me-ás novamente, mais tangível
Do que me conheceste na Terra.

Mas quando eu for somente um sonho para ti,
Voltarei para te lembrar que também não passas
De um sonho do meu Bem-amado Celestial.

E quando souberes que és um sonho, como agora eu sei,
Estaremos despertos Nele para sempre.

Da Morte (K. Gibran)


Então, Almitra falou, dizendo: “Gostaríamos de interrogar-te a respeito da morte.”
E ele disse:

“Quereis conhecer o segredo da morte.

Mas como podereis descobri-lo se não o procurardes no coração da vida?

A coruja, cujos olhos, feitos para a noite, são velados ao dia, não pode descortinar o mistério da luz.
Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abri amplamente as portas do vosso coração ao corpo da vida. Pois a vida e a morte são uma e a mesma coisa, como o rio e o mar são uma e a mesma coisa. Na profundeza de vossas esperanças e aspirações dorme vosso silencioso conhecimento do além; e como sementes sonhando sob a neve, assim vosso coração sonha com a primavera.


Confiai nos sonhos, pois neles se ocultam as portas da eternidade.
Vosso temor da morte é semelhante ao temor do camponês quando comparece diante do rei, e este lhe estende a mão em sinal de consideração.
Não se regozija o camponês, apesar do seu temor, de receber as insígnias do rei?
Contudo, não está ele mais atento ao seu temor do que à distinção recebida?
Pois, que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?

E que é cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que se levante e se expanda e procure a Deus livremente? É somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar. É somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir. É quando a terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar.”

Da Beleza (K. Gibran)

E um poeta disse: “Fala-nos da beleza.”

E ele respondeu:
“Onde procurareis a beleza e como a podereis encontrar a menos que ela mesma seja vosso caminho e vosso guia?

E como podereis falar a menos que ela mesma teça vossas palavras?

Os aflitos e os feridos dizem: ‘A beleza é amável e suave.

Como uma jovem mãe, meio encabulada na sua glória, ela caminha entre nós.’
Os apaixonados dizem: ‘Não, a beleza é uma força poderosa e temível.
Como uma tempestade, ela sacode a terra abaixo de nós e o céu acima de nós.’
Os cansados e os gastos dizem: ‘A beleza é um murmúrio suave. Fala em nosso espírito. Sua voz cede aos nossos silêncios como uma luz tênue que treme por medo da sombra.’
Mas os turbulentos dizem: ‘Nós a ouvimos gritar entre as montanhas, e com seus gritos chegavam o tropel de cavalos, o bater de asas e o rugir de leões.’
À noite, os guardas da cidade dizem: ‘A beleza despontará do Oriente com a alvorada.’
E, ao meio-dia, os trabalhadores e os transeuntes dizem: ‘Nós a temos visto inclinada sobre a terra, das janelas do poente.’
No inverno, os prisioneiros da neve dizem: ‘Ela virá com a primavera, pulando sobre as colinas.’ E no calor do verão, os ceifeiros dizem: ‘Nós a vimos dançar com as folhas do outono, e havia neve no seu cabelo.’

Todas essas coisas, dissestes da beleza.
Na verdade, porém, não falastes dela, mas de desejos insatisfeitos.
E a beleza não é um desejo, mas um êxtase.

Não é uma boca sequiosa, nem uma mão vazia que se estende, mas, antes, um coração inflamado e uma alma encantada. Ela não é a imagem que desejais ver, nem a canção que desejais ouvir, mas, antes, a imagem que contemplais com os olhos velados e a canção que ouvis com os ouvidos tapados. Não é a seiva por debaixo da cortiça enrugada, nem uma asa atada a uma garra, mas, sim, um pomar sempre em flor, e uma multidão de anjos em vôo.
Povo de Orphalese, a beleza é a vida quando a vida desvela seu rosto sagrado.
Mas vós sois a vida, e vós sois o véu.

A Beleza é a Eternidade olhando para si mesma num espelho.
Mas vós sois a eternidade, e vós sois o espelho.”

Do Prazer (K. Gibran)



“Então um eremita que visitava a cidade uma vez por ano, avançou e
disse: Fala-nos do Prazer.
E ele respondeu, dizendo:

O prazer é uma canção de liberdade, mas não é a liberdade.
É o desabrochar dos vossos desejos, mas não é os seus frutos.
É um chamamento profundo para as alturas, mas não é profundo nem alto.
É o encarcerado a ganhar asas, mas não é o espaço que o circunda.

Sim, na verdade, o prazer é uma canção de liberdade.
E bem gostaria que a cantásseis com todo o vosso coração;
No entanto, não percais os vossos corações nos cânticos.

Alguns da vossa juventude procura o prazer como se isso fosse tudo, e esses
são julgados e punidos.
Eu não os julgaria nem puniria.
Gostaria que empreendessem a busca.
Pois eles encontrarão prazer, mas não só.
Sete são as suas irmãs, e a mais insignificante delas é mais bela que o prazer.
Nunca ouviram a história do homem que cavava a terra para encontrar raízes
e descobriu um tesouro?

E alguns de vós, mais velhos, recordam os prazeres com remorsos.
Como erros cometidos quando estavam bêbedos.
Mas o remorso só obscurece o espírito e não o castiga.
Deveriam lembrar-se dos prazeres com gratidão, tal como fariam após uma
colheita no verão.
No entanto, se os conforta sentir o remorso, deixai-os confortarem-se.


E há entre vós aqueles que não são nem suficientemente jovens para
empreender a busca, nem suficientemente velhos para se lembrarem;
E no medo deles de procurarem e se lembrarem, conseguem afastar todos os
prazeres, a menos que negligenciem o espírito.
Mas até na antecipação reside o seu prazer.
E assim também eles encontram um tesouro, embora procurem as raízes com
mãos trémulas.

Mas dizei-me, quem pode ofender o espírito?
Será que o rouxinol consegue ofender a quietude da noite ou o brilho das
estrelas?
E as vossas chamas ou fumo conseguem carregar o vento?
Pensais que o espírito é um lago imóvel que podeis perturbar?
Muitas vezes ao negardes a vós mesmos o prazer, estais a ocultar o desejo
nos recônditos do vosso ser.
Quem sabe que o que parece ser omitido hoje espera por amanhã?
Até o vosso corpo conhece a sua herança e as suas necessidades e não sairá
desiludido.

E o vosso corpo é a harpa da vossa alma, e é a vós que compete extrair dela
uma doce melodia ou sons confusos.
E no vosso coração, perguntais,
“Como distinguiremos o que é bom no prazer do que não é?”

Ide para os vossos campos e jardins e aprendereis que o prazer da abelha
consiste em retirar o mel da flor.
Mas também a flor tem prazer em dar o seu mel à abelha.
Pois para a abelha a flor é uma fonte de vida.
E para a flor a abelha é mensageira de amor.
E, para ambas, abelha e flor, o dar e o receber de prazer é uma necessidade e
um êxtase.


Povo de Orfalese, olhai para os vossos prazeres como as abelhas e as flores.