A Natureza do Eu - JOEL S. GOLDSMITH


Quando dizemos "Eu sou Deus" ou "Eu guio o meu Universo", não estamos dizendo que um ser humano é Deus ou que um mortal é espiritual. Nunca se esqueça que é um absurdo tentar espiritualizar um homem mortal ou criar Deus num ser humano. Este foi um dos erros da religião, em todos os tempos - destacar algum indivíduo e fazer dele um Deus: escolher alguma pessoa, algum ser humano e fazer dele um Deus. A verdade é que só Deus é Deus; mas Deus é a individualidade, a identidade e a realidade de cada um de nós, quando vencemos os nosso sentido de humanidade. Frequentemente, quando você vê pessoas que trabalham a partir do ponto de vista de que "eu sou", você as achará confusas, perambulando e dizendo: "eu sou Deus". Essas pessoas tendem a perambular com a carteira vazia, com um corpo doente, a usar óculos e, no entanto continuam a dizer: "eu sou Deus". Você pode ver como isso é ridículo, porque isto não é Deus de forma alguma. Eu sou Deus.

Este Eu é um ser universal, infinito, onipresente, e Ele é a realidade do seu ser e do meu ser, quando superamos o sentido humano do eu. Você não eleva o sentido humano e o torna imortal ou espiritual. Eis a razão pela qual os tratamentos que dizem: "Você é espiritual" ou "Você é perfeito" ou "Você é rico" têm pouco valor. Tais afirmações não são, de forma alguma, verdadeiras. Se elas fossem verdadeiras, você não acharia necessário repeti-las. Você pode imaginar um Rockfeller ou um Carnegie, ou qualquer homem de fortuna reconhecida, perambulando e dizendo: "Eu sou rico"? Você quase nunca ouve uma pessoa saudável dizer: "Eu sou saudável". Quando você faz estas afirmações, é porque acredita que é o oposto. Você está tentando se enganar, ao acreditar que é algo que realmente não é. Quando você simplesmente repete as palavras: "eu sou Deus", isso não é verdade, mas quando OUVE essas palavras DENTRO de você, esta é a Verdade. Isto é Deus Se anunciando como a realidade. Quando você ouve uma voz dizendo:
"Não sabeis que eu sou Deus?", você ouviu a Verdade e, ao ouvir esta Verdade, tudo que é mortal desaparece. Pelo menos, desaparece num certo grau; e como, mais e mais, você ouve a pequena voz silenciosa, haverá cada vez menos do humano, ou do aspecto humano, a ser dissipado. Isto é confirmado na afirmativa do Mestre: "Eu venci o mundo". Ele não disse "Eu me aperfeiçoei nas coisas do mundo" ou "Eu melhorei a saúde deste mundo ou a riqueza deste mundo". O Mestre saiu do mundo. Ele disse: "Eu venci o mundo". E novamente, você encontrará esta mesma idéia em sua afirmativa: "Meu reino não é deste mundo". "Meu reino" - o reino de Cristo, o reino espiritual - não é o do mundo humano. Você não pode trazer o Cristo para o mundo humano, mas pode vencer o mundo humano e encontrar este reino interior, onde o Cristo é rei.

Em nossa passagem favorita de Lucas, você encontra:
"Porque os pagãos de todo o mundo é que buscam tudo isso" (Lucas 12:30) - coisas para comer, coisas para vestir e coisas para possuir. O que são os "pagãos de todo o mundo"? Quem são as pessoas do mundo? Não são aquelas cuja consciência está concentrada nas coisas, as pessoas que habitam um ambiente de coisas, adquirindo coisas ou precisando de coisas - COISAS, COISAS, sempre COISAS. Os pagãos de todo o mundo estão buscando coisas, mas não vocês - não "vós, meus discípulos"; vós, de consciência espiritual. Vocês não estão buscando coisas; vocês estão buscando a percepção consciente de Deus como a realidade do seu ser. Isso é tudo o que você pode buscar neste trabalho, e esta atitude atinge seu resultado na declaração de Paulo: "Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim". Quando você diz: "Cristo vive em mim", esta não é uma fala mortal. O mortal, o ser humano, aquele que planeja, deixou de existir e se tornou uma testemunha da atividade do Cristo - da vida do Cristo. Agora, você está observando o Cristo trabalhar EM você, ATRAVÉS DE você e COMO você.

Você está abandonando o aspecto humano e vivendo sua Cristandade, quando não está pensando, planejando, se preocupando, temendo, duvidando; em outras palavras, quando a mente humana está menos ativa como um aparelho que pensa e mais ativa como um estado de percepção. Quando seu pensamento é o testemunho de Deus em ação, observando Deus se manifestar, então você está vivendo mais a vida de Cristo e menos a vida humana. Quanto mais você achar necessário planejar seus dias, semanas, meses e anos, mais você terá de se preocupar com sua vida;
quanto mais o aspecto humano é evidente, menos evidente é o aspecto espiritual. Por outro lado, você está vivendo o seu estado de Cristo na medida em que você encontra o seu trabalho de todo dia, a sua provisão e toda sua atividade se desenvolvendo de uma forma espontânea, normal e natural - quando isso acontece, você pode dizer: "O Eu, Deus, é a realidade do meu ser". Você atingiu um lugar na consciência onde entende o significado do Eu sou Deus. Este Eu, que se torna a lei para o seu ser, não é o pensar consciente de você ou do Eu. É a Consciência divina do nosso ser, revelada no grau, no qual o pensar consciente, no sentido de planejar e de lutar, deixa de existir.

[...]
Não anulamos a nós mesmos, nem destrumímos nossa individualidade, neste caminho - nós a ampliamos. Mas, neste ponto, devemos entender que Deus é infinito em Sua individualidade e que, portanto, Deus está expressando essa individualidade como você ou eu. Essa individualidade ainda é Deus, mas é Deus se manifestando como você ou como eu.

[...]
Só Deus é Deus. Este é o ensinamento do Caminho Infinito: só Deus é Deus, o homem não é Deus. O Caminho Infinito nunca ensina que o homem é Deus. Mas Deus, sendo infinito, se manifesta como individualidade infinita - Deus se manifesta como a totalidade de você e de mim quando vencemos o mundo. Quando vencemos a tentação de nos interessarmos pelo pequeno 'eu', quando não mais nos preocupamos com essa individualidade pequena, então podemos dizer: "Eu sou Deus", porque isso realmente é verdade.

Até agora, nossa atenção no mundo esteve focalizada nas pessoas e nas coisas. Não fazia diferença a forma pela qual as coisas apareciam. A ênfase sempre esteve na saúde, na riqueza, na harmonia, no lar, ou no companheirismo. A transformação que se faz necessária, agora, é uma reviravolta completa, para onde o pensamento esteja focalizado em nossa consciência, e a habilidade de deixar essa consciência fluir de qualquer forma necessária para o nosso desenvolvimento.

Não nos preocupemos com coisas nenhuma, com pessoa alguma ou com qualquer demonstração. Nada que aparece no mundo dos efeitos é de nosso interesse. Isto não significa que estamos eliminando as pessoas ou as coisas da nossa experiência. Pelo contrário, como o interesse pelas pessoas e coisas deste mundo diminui, geralmente nós as temos com mais abundância, só que, agora, as utilizamos no sentido correto. Por exemplo, se um anel chega até mim, eu o uso e gosto dele, mas não há nenhum apego, nenhum sentido de posse, nenhum sentido de desejo. Ele apenas vem para mim, eu o uso e gosto dele - e isso é tudo. Agora, a mesma coisa pode ser verdade quanto a roupas, amigos ou parentes. Pode ser verdade quando ao casamento. O que quer que a consciência traga para mim, eu uso e gosto.

[...]
Quanto maior a percepção de Deus que você atingir, maior o grau de coisas e pessoas agradáveis que aparecerão no seu mundo exterior. Essas coisas e pessoas serão a sua própria consciência aparecendo a você. Ao olhar para a atual situação de seus afazeres, você pode dizer: "Então, eu tenho um estado de consciência muito pobre". Pode ser que seja assim. Neste caso, cabe a você reconhecer isso e mudar. Cabe a você mudar. "Buscai, pois, em primeiro lugar o reino de Deus" (Mateus 6:33) - a percepção consciente de Deus. Busque esta consciência de Deus e faça dela uma percepção sempre crescente. Deus está aqui em Sua infinitude, mas atingimos essa consciência só até certo ponto. Que ponto é este, cabe a nós buscar.

Todo mundo na Terra tem, potencialmente, a mesma consciência que Jesus Cristo. Ela é infinita, está aqui e está nos esperando. A pergunta é: queremos passar horas de devoção, queremos fazer o esforço exigido para nos treinarmos a fim de sermos conscientes da presença de Deus, em vez de buscarmos alguma
forma, na qual Deus esteja para aparecer? Aqui está todo o segredo. Cabe a nós! Se pudermos contar totalmente com o Princípio, a Consciência, podemos atingir a consciência do Cristo.

[...]
A consciência é infinita. A consciência se manifesta como um ser individual (o seu ser o meu ser). Se eu disser a você que a consciência se manifestou como o meu ser individual e como o meu estado de consciência individual, e que esta consciência, através de mim ou como eu, está transmitindo a você esta verdade, você provavelmente concordará. Se você se sentar no seu escritório, ou em casa, e ajudar alguém, você concordará que essa consciência que ocorre como verdade, como poder espiritual, foi aquela que possibilitou a você ajudar o seu paciente, o seu vizinho, o seu amigo ou parente.

[...]
A consciência nunca morre. A consciência de todo e qualquer indivíduo nunca morre. A consciência individual nunca desaparece da face da Terra. Portanto, essa consciência, que é conhecida como Jesus Cristo, Krishna ou Buda (essa consciência que é conhecida como alguma grande luz ou personalidade religiosa e espiritual), está onipresente dentro de você e pode aparecer a qualquer momento em que você abra a sua consciência. Pode tomar a forma de palavras ou pensamentos. Mas não fique surpreso se ela aparecer como uma pessoa, como a verdadeira imagem e semelhança de algum ser espiritual.

[...]
O que fizemos em nossa vida religiosa foi simplesmente dizer os nomes "Pai", "Mãe", "Deus" e "Cristo" - sem ter tido realmente a experiência de Deus em nosso ser interior - o que não tem significado. O propósito e a mensagem do "Caminho Infinito" é fazer de Deus uma realidade viva, a fim de que você, ao fechar seus olhos ou abrí-los, tenha sempre a sensação e o sentimento dessa Presença divina orientando, conduzindo, dirigindo e instruindo você.

Mundos Nus Celestes

Num dos mundos mais celestes fiquei nú
Num dos campos tu refletes fiquei mais
Numas flores tão alegres teu azul nú
Uma estrela te derretes em letras tão letrais

Papai Infinito qual é Teu Nome
Plasma bonito quente quem te some
Quem te sou? A ser real renome
Que renove, queira novo homem

Passarinho passa no ninho
Eu morro no morro, viro pássaro
Louco no olho, virá o que verá raro
Perfura os moldes que passaram
Perfuma o manto que me passarão
Passa tão, assim tão, mas não tanto ÃO
Mas AO, eu vou AO EU!
O EU que vive o CÉU
É
SEU e MEU
Posso ser nosso eu pois deus nosso que deu.
Posso ver floresceu, pouso em deus, pôs os dedos no céu
Pesos doidos do véu, que levitou
Os pesos pescam dois dos doidos peixes que nadam no véu
O véu é: que nada. Quem a dá? Quer nadar?
A ilusão é uma ilusão. Eu disse que não era ão.
Não ão
Sim im
In meu Terior... Em meu INterior SIM!
Para UNS parece [perece] terror, é preciso, é prece-isso ser UM não-uns, e sim um.
Anterior a isso é a ex-terna [era muito terna] ilusão, ÃOterior ao IMterior.
O que antecede não.te.cede, pois passou.
O Universo inter-cede por Mim agora no presente que passo.
Um Presente do meu Interior.
Que esplendor.
És plena dor de sentir o gozo do Amor.

Nãovê as Naves no céu, são como Aves Extraterrestres.
Mas são como nós os belos irmãos.
A Terra vive no Universo mas seus habitantes deixaram de ser Universais.
É difícil largar de serem bobos Terrestres.
Ao menos fossem terrestres belos... Assim se une ver sou.
Ter restres
Ver rastros
Dos sinais que chegam do espaço
Dos espaços que chegam do além do espaço.
Ex-passos... Rompe-se a barreira.
Não é preciso caminhar no Silêncio em que estou em Ti, meu Senhor Deus.
S e n h o r d e u s
S e m . o r d e n s ou bens, sem bens ou tambéns, nem mesmo os parabéns.

É a Própria VIDA o BEM!
AMÉM

NAMASTÊ

AMA - TE

Krishnamurti - Mentalidade Religiosa

[...]

Para mim, revolução é sinônimo de religião. Com a palavra "revolução" não me refiro a imediatas reformas econômicas ou sociais, porém a uma revolução na própria consciência. Todas as outras formas de revolução, seja comunista, seja capitalista, seja qual for, são puramente reacionárias. Uma revolução na mente - que significa total destruição do que foi, para que a mente se torne capaz de ver sem deformação e sem ilusão o que é verdadeiro - essa é a ação própria da religião. Penso que a mente real, a verdadeira mente religiosa, existe, pode existir. E ela pode ser descoberta por quem nisso penetrou com profundeza. A mente que deitou abaixo, que destruiu todas as barreiras, todas as mentiras que lhe impôs a sociedade, a religião organizada, o dogma, a crença, e passou além para descobrir o verdadeiro, essa é a verdadeira mente religiosa.

Consideremos, pois, em primeiro lugar, a questão da experiência. Nosso intelecto resulta de experiência secular; o intelecto é o depósito da memória. Sem essa memória, sem essa acumulação de experiência e conhecimento, ser-nos-ia completamente impossível funcionar como entes humanos. As experiências, a memória, são obviamente necessárias num certo nível. Mas, por igual me parece óbvio que toda experiência baseada no condicionamento pelo saber, pela memória, é necessariamente limitada. Por conseguinte, a experiência não é fator de libertação.

Não sei se já pensastes nisso.

Toda experiência é condicionada pelas precedentes. Portanto, não há experiência nova, porque cada experiência traz sempre o colorido do passado. No próprio processo de experimentar existe a. deformação proveniente do passado, sendo o passado: conhecimento, memória, várias experiências acumuladas, não só as individuais, mas também as da raça, da coletividade. Ora, é possível rejeitarmos toda essa experiência?

Não sei se já considerastes a questão da rejeição, o que significa rejeitar, uma coisa. [...] Para a maioria de nós, só há duas maneiras de rejeitar - por meio do saber ou por meio de reação. Rejeitais a autoridade do sacerdote, da igreja, da palavra escrita, do livro, ou porque estudastes, investigastes, acumulastes outros conhecimentos, ou porque não gostais da coisa e reagis contra ela. Mas a verdadeira rejeição significa rejeitar sem saber o que acontecerá depois, sem esperanças para o futuro. Dizer: "Não sei o que é verdadeiro, mas isto é falso", isso, decerto, representa a única rejeição verdadeira, porquanto não provém do conhecimento calculista nem de reação. Afinal de contas, se sabeis de antemão o resultado de vossa rejeição, trata-se então de mera troca, mera transação; por conseqüência, isso não é de modo nenhum a verdadeira rejeição.

[...]

Por certo, para encontrar a realidade, encontrar Deus - ou o nome que preferirdes - a mente deve estar só, livre de influências, porque ela é então uma mente pura; e uma mente pura pode prosseguir. Ao ocorrer a destruição completa de todas as coisas que a mente criou em si mesma, como segurança, como esperança e como resistência contra a esperança - que é o desespero - etc., surge então, seguramente, um estado de destemor no qual a morte não existe. A mente que está só, está vivendo integralmente e nesse viver há um morrer a cada minuto; por conseguinte, para essa mente não existe a morte. Isso é realmente extraordinário para quem penetrou nesse estado; descobris, então, por vós mesmos, que a morte não existe. Existe, tão-só, aquele estado de austeridade pura, da mente que está só.

Essa solidão não é isolamento; não é fuga para uma torre de marfim; não é abandono. Tudo isso ficou para trás, foi esquecido, dissipado, destruído. Essa mente, por conseguinte, sabe o que é destruição; e precisamos conhecer a destruição, senão não poderemos achar nada novo. E que medo temos de destruir tudo o que acumulamos!

Há um ditado sânscrito: "As idéias são os filhos das mulheres estéreis". E parece que a maioria de nós gosta de se entreter com idéias. Podeis estar considerando estas nossas palestras como uma troca de idéias, "processo" de aceitar idéias novas e abandonar idéias velhas, ou "processo" de rejeitar idéias novas e conservar as velhas. Não nos estamos ocupando com idéias, absolutamente. Estamos nos ocupando com fatos. E quando estamos interessados nos fatos, não há ajustamento; ou aceitamos o fato, ou o rejeitamos. Podeis dizer: "Não gosto destas idéias, prefiro as velhas, e continuarei a viver no meu próprio padrão" - ou podeis aceitar o fato. Não podeis transigir, não podeis ajustar. Destruição não é ajustamento. Ajustar, dizer: "Devo ser menos ambicioso, não devo ser tão invejoso" - isso não é destruição. E devemos, decerto, perceber a verdade de que a ambição, a inveja, é feia, estúpida, e que é necessário destruir todos esses absurdos. O amor nunca ajusta. Só o desejo, o medo, a esperança, ajustam. Eis por que o amor é uma coisa destrutiva, pois se recusa a adaptar-se, a ajustar-se a qualquer padrão.

Começamos, pois, a descobrir que, havendo destruição de toda autoridade que o homem criou para si mesmo, no desejo de se pôr em segurança interiormente, há criação. Destruição é criação.

Em seguida, se abandonastes as idéias, e não vos estais ajustando a vosso próprio padrão de existência ou a um novo padrão que, pensais, este orador está criando - se alcançastes esse ponto, descobrireis que o intelecto pode e deve funcionar unicamente em relação às coisas exteriores, corresponder tão-só às exigências exteriores; por conseqüência, o intelecto se torna completamente tranqüilo. Isso significa que a autoridade de suas experiências terminou e, portanto, é incapaz de criar ilusões. E descobrir o que é verdadeiro, isso é essencial, para que termine o poder de criar a ilusão, em qualquer forma que seja. E o poder de criar a ilusão é o poder do desejo, do desejar ser isto e não desejar ser aquilo.

O intelecto, pois, deve funcionar neste mundo com raciocínio, com sanidade, com clareza; mas, interiormente, ele deve estar completamente quieto.

Dizem os biologistas que o cérebro levou milhões de anos para evolver até o seu estado atual, e levará outros milhões de anos para evolver mais. Mas a mente religiosa não depende do tempo para sua evolução. Eu gostaria que compreendêsseis isto. O que desejo transmitir é que quando o cérebro, o intelecto - que deve funcionar com suas reações à existência externa - se torna quieto interiormente, não existe mais o mecanismo de acumulação de experiência e conhecimento e, por conseguinte, o intelecto está completamente quieto, porém plenamente vivo pode então saltar por sobre milhões de anos.

Vemos, pois, que para a mente religiosa o tempo não existe. Só existe o tempo quando um estado de continuidade passa para outro estado de continuidade e de realização. Quando a mente religiosa destruiu as autoridades do passado, as tradições, os valores que lhe foram impostos, é ela então capaz de existir sem o tempo. Está então plenamente desenvolvida. Porque, ao negarmos o tempo, negamos todo o desenvolvimento através do tempo e do espaço. Note, por favor, que isto não é uma idéia; não é uma coisa para com ela nos entretermos. Se passardes por isso, sabeis o que é o amor, achai-vos naquele estado; mas, se não passastes por isso, podeis então apossar-vos destas idéias e entreter-vos com elas.

Vedes, pois, que destruição é criação; e na criação não existe o tempo. A criação é aquele estado em que o intelecto, tendo destruído todo o passado, está completamente quieto e, portanto, no estado em "que não existe tempo nem espaço, para crescer, expressar-se, VIr a ser". E esse estado de criação não é a criação de uns poucos indivíduos prendados - pintores, músicos, escritores, arquitetos. Só a mente religiosa pode encontrar-se num estado de criação. E a mente religiosa não é aquela que pertence a certa igreja, crença, dogma, a essas coisas só podem condicionar a mente. Ir à igreja todas as manhãs e render culto a este ou àquele não vos torna uma pessoa religiosa, embora a sociedade respeitável possa considerar-vos como tal. O que faz a pessoa religiosa é a destruição total do conhecido.

Nessa criação há um sentimento de beleza; uma beleza não construída pelo homem; uma beleza que transcende o pensamento e o sentimento. Afinal, o pensamento e o sentimento são puras reações; e a beleza não é reação. Possui a mente religiosa aquela beleza que não é a mera apreciação das montanhas graciosas, da torrente impetuosa, porém um sentimento bem diferente da beleza - e de par com ela está o amor. Não se me afigura possível separar a beleza do amor. Como sabeis, para a maioria de nós o amor é coisa dolorosa, porque é sempre acompanhado do ciúme, do ódio e dos instintos de posse. Mas esse amor de que falamos é um estado em que se acha presente a chama sem fumo.

A mente religiosa, pois, conhece essa destruição completa. total. e sabe o que significa achar-se num estado de criação, estado que não se pode comunicar. E nela existe o sentimento da beleza e do amor, que são inseparáveis. O amor não é divisível em amor divino e amor físico. É Amor. E não é necessário dizer que ele se acompanha, naturalmente, de um sentimento de paixão. Não se pode ir muito longe sem paixão - paixão, que é intensidade. Não a intensidade do desejar alterar algo, fazer algo, a intensidade que tem causa, de modo que se remover a causa à intensidade desaparece. Não é um estado de entusiasmo. A beleza só pode existir quando há a paixão, que é austera; e a mente religiosa, encontrando-se nesse estado, tem uma força de qualidade peculiar. Sabeis que, para nós, força é o resultado da vontade, de muitos desejos entrelaçados que formam a corda da vontade. E essa vontade, para a maioria de nós, significa resistência. O processo de resistir a uma coisa ou de buscar um resultado desenvolve a vontade e essa vontade é geralmente chamada força. Mas a força a que nos referimos nada tem em comum com a vontade. É força sem causa. Não pode ser utilizada, mas sem ela nada pode existir.

Assim, quando uma pessoa penetrou profundamente no descobrimento de si mesma, existe a mente religiosa; e esta não pertence a um dado indivíduo. Ela é a mente, a mente religiosa, separada de todas as humanas lutas, exigências, ânsias e compulsões individuais, etc. Estivemos apenas descrevendo a totalidade da mente, que poderá parecer dividida pelo emprego de diferentes palavras; mas ela é uma coisa total, na qual tudo se contém. Por conseguinte, essa mente religiosa pode receber aquilo que não é mensurável pelo intelecto. Essa coisa é indenominável; nenhum templo, nenhum sacerdote, nenhuma igreja, nenhum dogma pode conter. Rejeitar tudo isso e viver naquele estado, essa é que é a verdadeira mentalidade religiosa.



PERGUNTA: Pode a mente religiosa ser adquirida pela meditação?

KRISHNAMURTI: A primeira coisa que se deve compreender é que ninguém pode adquiri-Ia, ninguém pode obtê-la, e que ela não pode ser produzida pela meditação. Nem virtude, nem sacrifício, nem meditação, nada sobre a Terra pode comprá-la. O senso de alcançar, realizar, adquirir, comprar, deve cessar totalmente, para que ela seja. Não se pode fazer uso da meditação. A coisa de que estive falando é a meditação. Descobrir a cada momento da vida diária o que é verdadeiro e o que é falso, isso é meditação. A meditação não é uma certa coisa para a qual fugimos, uma certa coisa em que se nos dão visões e toda sorte de sensações; isso é auto-hipnose, infantilidade. Mas observar cada momento do dia, ver como o vosso pensamento está funcionando, ver o mecanismo de defesa em ação, ver os temores, ambições, a avidez, a inveja - observar tudo isso, investigá-lo a todas as horas, isso é meditação, ou faz parte dela. Sem se lançar a base adequada, não há meditação, e o lançamento da base adequada consiste em ser livre de ambição, inveja, avidez e todas as coisas que criamos em defesa própria. Não precisais procurar ninguém para dizer-vos o que é a meditação ou para receberdes um método. Posso descobrir com muita simplicidade, pela observação de mim mesmo, quanto sou ou não sou ambicioso. Ninguém mo precisa dizer; eu o sei. Extirpar a raiz, o tronco, o fruto da ambição, vê-Ia e destruí-Ia totalmente - eis o que é absolutamente necessário. Vede, queremos ir muito longe, sem darmos o primeiro passo. E vereis, se derdes o primeiro passo, que ele é também o último passo - não há outro passo.

PERGUNTA: É verdade que não podemos servir-nos da razão para descobrir o que é verdadeiro?

KRISHNAMURTI: Senhor, que se entende por razão? A razão é pensamento organizado, como a lógica são idéias organizadas, não é exato? E o pensamento, por mais inteligente, por mais vasto, por mais erudito que seja, é limitado. Todo pensamento é limitado. Podeis observá-lo vós mesmos; isso não é novidade. O pensamento nunca pode ser livre. O pensamento é reação, reação da memória; é "processo" mecânico. Ele poderá ser razoável, poderá ser são, poderá ser lógico, mas é limitado. É como os computadores eletrônicos. E o pensamento nunca pode descobrir o que é novo. O intelecto adquiriu, acumulou, através de séculos, experiências, reações, lembranças; e quando essa coisa pensa, está condicionada e, portanto, não pode descobrir o novo. Quando, porém, esse intelecto compreendeu todo o processo da razão, da lógica, do investigar, do pensar - não rejeitou, mas compreendeu - então ele se torna quieto. E, então, esse estado de quietude pode descobrir o que é verdadeiro.

Senhor, a razão vos diz que deveis ter líderes. Tendes tido líderes políticos ou religiosos. Eles não vos conduziram a parte alguma, a não ser a mais sofrimento, mais guerras, maior destruição e corrupção.

[...]

Da Dádiva - Khalil Gibran

Então um homem opulento disse: “Fala-nos da dádiva.”

E ele respondeu:

“Vós pouco dais quando dais de vossas posses.

É quando dais de vós próprios que realmente dais.

Pois, o que são vossas posses senão coisas que guardais por medo de precisardes delas amanhã?

E amanhã, que trará o amanhã ao cão ultraprudente que enterra ossos na areia movediça enquanto segue os peregrinos para a cidade santa?

E o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade?

Não é vosso medo da sede, quando vosso poço está cheio, a sede insaciável?

Há os que dão pouco do muito que possuem, e fazem-no para serem elogiados, e seu desejo secreto desvaloriza suas dádivas.

E há os que têm pouco e dão-no integralmente.

Esses confiam na vida e na generosidade da vida, e seus cofres nunca se esvaziam.

E há os que dão com alegria, e essa alegria é já a sua recompensa.

E há os que dão com pena, e essa pena é o seu batismo.

E há os que dão sem sentir pena nem buscar alegria nem pensar na virtude:

Dão como, no vale, o mirto espalha sua fragrância no espaço.

Pelas mãos de tais pessoas, Deus fala; e através de seus olhos Ele sorri para o mundo.

É belo dar quando solicitado; é mais belo, porém, dar sem ser solicitado, por haver apenas compreendido;

E para os generosos, procurar quem recebe é uma alegria maior ainda que a de dar.

E existe alguma coisa que possais guardar?

Tudo o que possuís será um dia dado.

Dai agora, portanto, para que a época da dádiva seja vossa e não de vossos herdeiros.

Dizeis muitas vezes: “Eu daria, mas somente a quem merece”.

As árvores de vossos pomares não falam assim, nem os rebanhos de vossos pastos.

Dão para continuar a viver, pois reter é perecer.

Certamente, quem é digno de receber seus dias e suas noites é digno de receber de vós tudo o mais.

E quem mereceu beber do oceano da vida, merece encher sua taça em vosso pequeno córrego.

E que mérito maior haverá do que aquele que reside na coragem e na confiança, mais ainda, na caridade de receber?

E quem sois vós para que os homens devam expor o seu íntimo e desnudar seu orgulho a fim de que possais ver seu mérito despido e seu amor-próprio rebaixado?

Procurai ver, primeiro, se mereceis ser doadores e instrumentos do dom.

Pois, na verdade, é a vida que dá à vida, enquanto vós, que vos julgais doadores, são meras testemunhas.

E vós que recebeis – e vós todos recebeis – não assumais encargo de gratidão a fim de não pordes um jugo sobre vós e vossos benfeitores.

Antes, erguei-vos, junto com eles, sobre asas feitas de suas dádivas;

Pois se ficardes demasiadamente preocupados com vossas dívidas, estareis duvidando da generosidade daquele que tem a terra liberal por mãe e Deus por pai.”

Consciência do Único Poder - JOEL S. GOLDSMITH


[...]

Quando nos pedem ajuda, nossa primeira reação é o desejo de mudar a aparência do mal em aparência do bem. Entretanto, se quisermos viver espiritualmente, precisamo-nos compenetrar de que o objetivo do ministério espiritual não é mudar doença em saúde. A saúde é temporária, e a que temos hoje poderá converter-se em doença amanhã, na próxima semana ou no próximo ano. A finalidade do ministério espiritual não é condenar publicamente o mal e tentar fazer o bem. Seu objetivo é, antes de nada, ensinar-nos a desprezar as aparências boas ou más e manter-nos atentos ao Caminho do Meio, compenetrados de que precisamente onde parece encontrar-se o bem ou o mal, o que existe é a realidade do Espírito.

A má aparência de hoje poderá converter-se em boa aparência amanhã e, como bem sabemos, toda boa aparência pode logo tornar-se má. Um dia de paz na terra pode ser apenas a pausa momentânea que precede outra guerra; a saúde perfeita de hoje não passa de uma condição temporária que os micróbios ou o envelhecimento poderão mudar. Vistos humanamente, estamos como que num carrossel, sempre a rodar, rodar, rodar. Estamos sempre a oscilar como um pêndulo, entre a doença e a saúde, entre a pobreza e a riqueza, entre a guerra e a paz, para trás e para frente, sem chegarmos à parte alguma.

Mas no Meu reino não há pares de opostos. Meu reino é um reino espiritual, onde nada é tocado por influências contraditórias. Meu reino é dirigido e protegido pelo divino Princípio, ou Deus, que a tudo mantém e sustenta. No Meu reino não há trevas. Esta declaração parece dar a entender que as trevas sejam alguma coisa má. No entanto, quando alcançamos o Terceiro Grau, teremos chegado à estatura espiritual do Salmista, que disse: “as trevas e a luz são a mesma coisa para Ti”.

Trevas e luz são uma coisa só. Aos olhos de Deus não há diferença entre elas. No reino espiritual não há luz nem trevas: há somente Espírito, uma Luz que não tem semelhança alguma com o que conhecemos como luz.

Luz, em sentido espiritual, é consciência iluminada, não por uma luz, mas pela Sabedoria. A expressão “Eu era cego, e agora vejo” não se refere à cegueira ou falta de visão física. É um modo figurado de declarar que estávamos na ignorância, mas agora alcançamos a Sabedoria. Freqüentemente se representa a ignorância por trevas e a sabedoria por luz, mas, na realidade, não há trevas nem luz para aqueles que vivem acima dos opostos.

Requerem-se meses, e às vezes anos de experiência espiritual para se compreender que no Meu reino trevas e luz são a mesma coisa, e que neste reino não procuramos mudar as trevas em luz. Ou livrar-nos das trevas para obtermos a luz. Trevas e luz são uma coisa só.

Alcançar esta concepção representa grande salto para qualquer pesquisador, mas para o ignorante da sabedoria espiritual e não treinado em metafísica e misticismo, é salto, ainda maior, – um salto quase impossível – conceber ou aceitar a idéia que doença e saúde são a mesma coisa. Na realidade, não passam dos extremos opostos da mesma vara. Quando individualmente podemos afirmar com convicção que “pelo que me toca, trevas, ou luz, dá tudo no mesmo. Não estou tentando livrar-me de uma para obter a outra: estou procurando compreender somente a sabedoria espiritual, a verdade espiritual, a divina Presença” – então é que começamos a compreender a natureza espiritual deste Universo.

É quando tentamos livrar-nos de algo ou procuramos conseguir algo, que abandonamos o mundo espiritual em troca do mundo das concepções humanas. Nem doença nem saúde exercem qualquer papel na vida espiritual: tudo o que existe na vida espiritual é Deus, o Espírito, infinita e eternamente manifesto como ser individual incorpóreo.

O ser incorpóreo não pode ser conhecido por meio dos sentidos da vista, da audição, do gosto, do tato ou do olfato. Pode ser experimentado somente em nossa consciência interna, mas quando compreendemos e percebemos diretamente que trevas e luz são a mesma coisa. E o que é essa coisa? – Ilusão mortal, maya, aparência. Tudo o que percebemos através dos sentidos – doença e pobreza hoje, ou saúde e riqueza amanhã –, é ilusão. Não veremos a Realidade enquanto não contemplarmos o ser espiritual, incorpóreo, através de nosso sentido espiritual.

A revelação e compreensão da unicidade do Poder ajudam-nos a alcançar aquele nível de consciência em que já não procuramos converter o estado negativo em positivo. Quando nos conscientizamos da existência de um só poder, cessamos não só de procurar poderes materiais para prover às nossas necessidades, mas também de andar em busca de poderes espirituais.

Se existe um só poder, então nada há sobre o que, contra o que ou a favor do que, possamos usá-lo. Que quer isto dizer, em essência? Que significa alcançar um nível de consciência em que se abandona todo desejo de empregar Deus como uma força? Não será isto liberar a Deus de responsabilidades? Não será exatamente isto o que temos que aprender a fazer?

Eis a vida mística: não nos rejubilamos com a boa aparência humana, mas olhamos para além do bem e do mal, para além das aparências humanas, e contemplamos a natureza do Cristo. Podemos fazer isto. Todos nós podemos fazê-lo. É verdade que isto requer alguma disciplina, algum treino, porque o que estamos procurando fazer é superar os efeitos de centenas de gerações daqueles que nos deixaram como herança a crença em dois poderes. Estamos pondo de lado tanto o bem com o mal, para contemplar o que é o Espírito; estamos pondo de lado a saúde e a doença, a fim de nos identificarmos com o Cristo – nossa individualidade permanente em Deus.

Somente nossa individualidade espiritual de filhos de Deus nos permite comer do “manjar” que o mundo não conhece. Não é por sermos boas criaturas humanas que qualquer de nós pode proclamar-se “co-herdeiro com Cristo”, porque as boas qualidades humanas estão tão longe do céu quanto as más. Os escribas e fariseus eram o que havia de melhor entre os hebreus, eram os mais religiosos, os maiores adoradores do Deus único, os maiores protetores do templo. Ser bons, era a sua obsessão. Não obstante, o Mestre disse aos seus seguidores que a bondade deles precisava transcender a dos escribas e fariseus. Isso, humanamente, teria sido quase impossível, porque estes, praticamente, já haviam atingido a perfeição.

Verdadeira bondade depende de nossa capacidade de compreender que o Reino de Deus nos pertence em virtude de nossa identidade espiritual, e não de nossa bondade humana. Isso implica em sermos bastante corajosos para lançar fora os pensamentos relacionados com todas as nossas maldades do passado e do presente e, ao mesmo tempo, todos os pensamentos referentes à nossa bondade – e não em condenarmos o mal que tenhamos feito e tomarmos a nosso crédito o bem que tenhamos praticado –, e afirmarmos somente a nossa identidade espiritual em Deus. Nesta ligação com Deus, descobriremos que somos um com Ele, que somos co-herdeiros com Cristo de todas as riquezas celestes. Mas enquanto pensarmos que os nossos maus caminhos estejam nos mantendo afastados dessas riquezas, ou que o bem que pratiquemos esteja nos aproximando delas, estaremos em caminho errado.

Tão longe da Luz está o que crê que algum pecado, alguma desgraça temporária ou algum erro por ação ou omissão o separa de Deus, quanto aquele que acredita que sua bondade humana lhe esteja granjeando a graça de Deus. Ninguém alcança a graça de Deus apenas por sua bondade humana: a graça de Deus se alcança pela realização da identidade espiritual. Em reconhecendo nossa identidade espiritual, seremos espiritualmente bons sob todos os aspectos. Não há meio de se saber como essa bondade corresponde à bondade humana, mas a integridade espiritual vem somente através de nossa conexão com Deus, não como conseqüência de nossas boas qualidades ou de nossos sacrifícios ou esforços pessoais.

Nossas experiências humanas do passado e do presente, tanto boas como más, constituem o sonho mortal, mas, em nossa Alma, somos o Ser-de-Deus, isto é, somos criaturas divinas; em nossa Luz interna, somos filhos de Deus; nas profundezas de nosso ser interno, somos um com Deus; e temos um “manjar” que, embora possamos não ter conquistado ou merecido, recebemos por herança divina.

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