Surretalhos da Existência (áudio)

Costurando os Retalhos da Existência

Pedras
Praias de pedra
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Costurando pensamentos nos retalhos da existência
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Retalhos esses que são as poeirinhas que desfiaram do verdadeiro manto. Fios desgovernados no nada... Mas para quem mora na linha, a referência é a costura... Pois lá se vai a costura e seus retalhozinhos pensantes, nas poeirinhas pensantes.
São pedras personificadas.
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Mas quanta personalidade!
Personas...
...Trocando uma máscara por outra...
...Mascarando uma troca por uma outra...
Penso, logo penso que existo.
Penso, logo penso que existo!
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Não sei quem sou, pois não sou quem sei.
Não sou quem sei, pois não sei quem sou...
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Quantas voltas pode uma chave dar,
Fechadura abrir, fechar abrer abrar?
Ou... Pedra sou?
Penso que fechou.
Do céu sol me ri.
...
Elevai-me Astral Que-me-abri Que da semente só senti
Não sou eu.

Ondas Magistrais (áudio)



Cantondas que cantam nas ondas o mais longo ondular
São o mais fino limiar.
As muralhas aquarelas da auréola do Ondular desmorona-se na finura do mais fino limiar.
As auras são brilhantes, estas brilhantes auras auriculares da aquarelância dos maleáveis furacões aqua-quânticos imersos a Um Magistral Comando.
Com sua magia, anda com maestria, galgando a suave primosia.

Afundai-vos de uma vez por todas nas Ondas Magistrais.
Achareis a Magistral Quietude das profundezas divinas, repousando na eternidade que a contém.
Oceano Orquestral, nuvem sideral.
As nuvens que navegam nas magistrais ondas.
Por onde anda a onda eu ainda nado no Nada.
No Magistral que dá início, a tudo acaba.
Como poeira que some do passado que galga.

Sumamos meus humanos!

Libélula Prateada (áudio)


(2009)
Num extenso lago azul-aquareante moravam algumas libélulas prateadas, não havia um número certo de quantas elas eram, mas eram poucas... Elas galgavam na superfície como delicadas pinças. As Libélulas Prateadas tinham um assobio dourado que flopeabeava com muita harmonia, cuja extensão explodiu de tamanho e o lago gargalhava por dentro em tons dourados, porque misturou-se com o assobio das moradoras. Das moradouradas!

Lu e Sheldd Amon-Rá (2009)

Rellen e Cristiano (2010)

Matrimônio Riva e Júlia (2010)


Na Cidade dos Pobres (Gibran)

Ontem, libertei-me do barulho da cidade e saí a caminhar por arredores mais tranqüilos até atingir um cume elevado que a natureza havia enfeitado com suas jóias mais belas. Diante de mim, estendia-se a cidade com seus arranha-céus e suas mansões, sob as densas nuvens de fumaça dos veículos e das indústrias.

Ante aquele lugar bucólico, me ponho a meditar sobre as atividades humanas. Achei-as, na sua maioria, mera agitação e fadiga. Esquecendo o homem, desviei o olhar para o campo, sede da glória divina e, não muito distante, vi uma necrópole, com seus túmulos de mármore rodeados por pinheiros.

Frente à cidade dos vivos e à dos mortos continuei a pensar. Pensava no movimento permanente e na luta incansável da primeira, e na quietude e paz que dominam na outra. Na primeira, lutam a esperança e o desespero, o amor e o ódio, a pobreza e a opulência, a fé e o ceticismo. Na outra a natureza acumula pó sobre pó, e neles ela cria, tranqüilamente, árvores e flores.

Enquanto me entregava a essas meditações, chamou-me a atenção uma multidão que avançava, vagarosamente, precedida por um elegante carro fúnebre engalanado por coroas de flores de muitas cores. No cortejo havia majestade, poder e homens de todas as classes. Era o funeral de alguém rico e poderoso: um cadáver que os vivos levavam para sua nova morada entre choros e lágrimas. Quando o cortejo atingiu o mausoléu e o ataúde era retirado de sua condução, consegui distingui-lo. Estava recoberto de elaboradas inscrições, desenhos e cercado por suntuosas coroas de flores. Agruparam-se todos a sua volta; um sacerdote tomou a frente de todos para orar, salmodiar e queimar incenso. Depois, sucederam-se os oradores e os poetas com suas elegias. Enfim, dispersou-se a multidão; voltou o cortejo à cidade, enquanto eu continuava a observá-lo de longe e a meditar.

Logo, o sol começou a descer para o poente, prolongando cada vez mais a sombra das árvores, e a natureza despiu pouco a pouco seu vestido de ouro. A um ruído, me virei e vi dois homens carregando um caixão de madeira comum, seguido por uma mulher em farrapos que segurava uma criança no colo e por um vira-lata miserável que olhava ora para a mulher, ora para o caixão. Era o enterro de um pobre. A mulher era sua esposa, que vertia as lágrimas da dor; a criança era seu filho, que chorava quando via a mãe chorar; o cachorro era seu amigo fiel, que pressentia o que se passava e andava com tristeza.

Chegou o pequeno cortejo ao cemitério; e logo foram enterrar o morto num canto distante, longe dos túmulos de mármore. Depois, afastaram-se num silêncio comovente. Observei-os, até desaparecerem por detrás das árvores.

Olhei, então, para a cidade dos vivos, e disse a mim mesmo: Ela pertence aos ricos e poderosos. Olhei então para a cidade dos mortos, e disse a mim mesmo: Ela também pertence aos ricos e poderosos. Onde está, ó Deus, a cidade dos pobres e humildes?
Ao fazer a pergunta, fitei as densas nuvens coloridas pelos últimos raios de sol e ouvi uma voz no meu interior responder: “Lá!”.

No Universo exterior assim como no Universo interior

(E. Tolle)

Ao erguer os olhos para o céu claro à noite, você pode compreender com a maior facilidade uma verdade que é ao mesmo tempo simples e extraordinariamente profunda. O que é que você vê lá em cima? A Lua, os planetas, as estrelas, a faixa luminosa da Via Láctea, quem sabe um cometa ou até mesmo a vizinha Galáxia de Andrômeda a 2 milhões de anos-luz.
Sim, mas simplificando ainda mais, o que você vê? Objetos flutuando no espaço. Então, o que forma o universo? Objetos e espaço.

Se você não fica sem palavras ao voltar seus olhos para o céu numa noite clara, então não o está observando de verdade, não está consciente da totalidade do que há ali. Provavelmente, está focalizando apenas os objetos e talvez tentando nomeá-los. Caso alguma vez você tenha se maravilhado ao olhar para o espaço - e talvez até sentido um profundo respeito diante
desse mistério incompreensível -, isso mostra que abandonou por um momento seu desejo de explicar e rotular e se tornou consciente não só dos objetos como da profundidade infinita do espaço em si mesmo. Deve ter permanecido silencioso o bastante em seu interior para notar a vastidão em que esses mundos incontáveis existem. O sentimento de admiração não
decorre do fato de que há bilhões de mundos ali, mas da profundidade que contém todos eles.

Não conseguimos ver o espaço, é claro. Também não podemos ouvi-lo, tocá-lo, nem sentir seu gosto e seu cheiro. Então, como somos capazes de saber que ele existe? Essa pergunta aparentemente lógica contém um erro fundamental. A essência do espaço é a imaterialidade, portanto ele não "existe" no sentido convencional da palavra. Apenas as coisas - formas - existem. Até mesmo chamá-lo de espaço pode ser enganador porque, ao
nomeá-lo, nós o transformamos num objeto.

Vamos considerar da seguinte maneira: existe algo dentro de nós que tem afinidade com o espaço, e é por isso que somos capazes de ter consciência dele. Consciência dele? Isso não é totalmente verdadeiro também porque, como podemos ter consciência do espaço se não existe nada lá de que possamos ter consciência?
A resposta é ao mesmo tempo simples e profunda. Quando estamos conscientes do espaço, não estamos de fato conscientes de nada, a não ser da consciência em si - do espaço interior da consciência. Por nosso intermédio, o universo vai se tornando consciente de si mesmo!

Quando o olho não encontra nada para ver, essa imaterialidade é entendida como espaço. Quando os ouvidos não encontram nada para escutar, essa imaterialidade é compreendida como silêncio. Quando os sentidos, que existem para perceber a forma, encontram a ausência da forma, a consciência sem forma que está por trás da percepção e torna possível toda
percepção, toda experiência, não é mais obscurecida pela forma. Quando contemplamos as profundezas insondáveis do espaço ou escutamos o silêncio nas primeiras horas do dia logo após o nascer do Sol, alguma coisa dentro de nós faz eco a isso como um reconhecimento. Então sentimos a enorme profundidade do espaço como nossa e sabemos que esse precioso
silêncio que não tem forma é mais essencialmente nós mesmos do que qualquer das coisas que formam o conteúdo da nossa vida.

Os Upanishads, os antigos textos sagrados da Índia, referem-se a essa mesma verdade com as seguintes palavras:
O que não pode ser visto pelos olhos, mas por meio do qual os olhos podem ver, é unicamente Brahma, o Espírito, e não o que as pessoas aqui adoram. O que não pode ser escutado pelos ouvidos, mas por meio do qual os ouvidos são capazes de ouvir, é unicamente Brahma, o Espírito, e não o que as pessoas aqui adoram... Aquilo que não pode ser compreendido pela mente, mas por meio da qual a mente consegue pensar, é conhecido unicamente como Brama, o Espírito, e não o que as pessoas aqui adoram.

Deixe as mãos dançarem


Sente-se em silêncio e deixe que seus dedos se mexam à vontade. Sinta o movimento a partir de dentro; não tente percebê-lo de fora. Portanto, mantenha os olhos fechados e deixe que a energia flua cada vez mais para as mãos.

As mãos estão profundamente ligadas ao cérebro: a mão direita, com o lado esquerdo do cérebro; a mão esquerda, com o lado direito do cérebro.

Se você der total liberdade de expressão aos seus dedos, muitas tensões acumuladas no cérebro serão aliviadas. Essa é a maneira mais fácil de aliviar o mecanismo do cérebro, suas repressões, sua energia não usada. Suas mãos são perfeitamente capazes de fazer isso.

Algumas vezes você sentirá que sua mão esquerda está erguida, outras a direita. Não imponha nenhum padrão; qualquer que seja a necessidade da energia, ela tomará aquela forma.

Quando o lado esquerdo do cérebro desejar liberar energia, ele desencadeará uma forma determinada. Quando o lado direito do cérebro estiver muito sobrecarregado com a energia, haverá um gesto diferente.

Você pode se tornar um grande meditador por meio dos gestos das mãos. Assim, sente-se em silêncio e brinque, dê permissão às mãos e ficará surpreso: isso é mágico. Você não precisa pular, correr ou fazer muita meditação caótica. Apenas as suas mãos serão suficientes.

A Maçã de como uma Pálpebra segura uma Lágrima


(2008, achado numas anotações perdidas)


Ah, a cristalina água do campo, correndo feliz, com seu frescor líquido...
Parecia ecoar de dentro de mim, pois eu me via fazendo parte dela! Eu me via espelhado em sua tranquila transparência. A água nadava em mim, eu sentia.

O sol brilhava devagar lá no alto, ofuscado pelos conjuntos geométricos de árvores, compridas, retorcidas, com folhas tão verdes que a cor ultrapassava seus limites e se misturava com esse límpido ar da primavera...
Dava pra se perceber algumas nuvens que por vezes nublavam a natureza, e ao fechar os olhos, com o corpo na água corrente, eu podia navegar com elas, podendo ter a forma que eu quisesse. Eu nada estava a 'fazer', estive ali, apenas existindo. E as maravilhas infinitas vinham como fadas do astral beijando delicadamente minha alma, me levavam nas asas de muitas espécies de aves, num profundo pulsar de energia, para compartilhar minha Paz nas redondezas campestres...

Até que uma onda trouxe acolhida a si uma linda maçã, que me tocou de leve na água. Graciosa, despertou-me agradavelmente, pois seu formato flamejava na superfície da perfeição. Sua casca estava tão pura, que podia nitidamente refletir a minha imensa gratidão... Era vidro sem atrito. Sua cor variava sensivelmente de vermelha para azul, e essa transição de cores se manifestava num sorriso! Um contagiante sorriso cósmico.
Mas não veio de mim.
A maçã. Ela, sorria inteiramente... Por sabe que eu a sentia na verdade, justamente por isso.
Ama sã.
Éramos eu e a maçã, em meio ao segundo plano de belezas naturais que cantavam aquela cena, onde a brisa era um pomposo arco de violino, que chorava alegremente sobre as cordas do Vale Iluminado, representadas pela folhagem dos longos eucaliptos. Um mero detalhe perante a grandeza de toda a orquestra divina que ali celebrava a incríveis melodias, que transmitiam a vitalidade. A vitalidade que me ligava a Ela, e que a ligava a Mim.
Degustávamos da mesma energia. Profunda contemplação do amor.


Meu braço esquerdo repousava pela água, água que se entrelaçava por entre os meus dedos, brincando de dançar, enquanto minha mão adormecia, essa mão era o recheio da grande gelatina do rio a fluir. Todo o meu corpo de luz era amigo da maçã. Presença sagrada.
Minha mão direita unida com a fruta servia como um pedestal, então a vim trazendo para mais perto de minha pacífica face...

Ela ficou maior e mais intensa quando se posicionou mais próxima de meus olhos, e a pirâmide do emu terceiro olho começar a repuxar num leve formigamento, mas que quase me levou ao êxtase.
Ela ficou mais sensível, pois pude perceber com mais clareza seu aroma tão perfumado, que era capaz de nos carregar e flutuar, apenas pelas pétalas de cheiro que se projetavam pelas tubulações do inconsciente.
Ela ficou mais comunicável, possuia o dom mágico da expressão. Minha audição podia perceber novos universos, a nova era de ciclos paralelos que se sobressaiam das frequências sonoras por ela emitida.
Em meus dedos e nos tapetes de almofadas da palma de minha mão, foi como se estivesse infiltrando, ramificando em raizes de energia, que pude sentir fluindo em minha rede sanguínea... Meu coração pulsava os batimentos cardíacos de entidades superiores, o batimento das constelações, das estrelas, dos planetas.
A superfície do meu rosto, a minha pele, sentia as vibrações de calor ou de frio que Ela emanava. Mas era algo além da temperatura.
Eu segurava a maçã como uma pálpebra segura uma lágrima.
Ela se encontrava bem próxima de meus rosto e meus sentidos de tão intensificados estavam a ponto de se unir.
A fruta era por meus lábios admirada, eles a penetravam em sua observação... Um instante de tão inédito silêncio... Cheguei a acreditar que o que estava quieto sobre a minha mão era minha boca, e no lugar da boca em meu rosto seria a fruta.
...Eu a beijei.

Senti o contato de cada gotícula de água que nela permanecia como pequenos cristais de luz a enfeitando. Nada fora disso pareceu existir neste instante eterno! Porque esse contato foi tudo, a própria criação. O próprio Criador.




A orquestra das árvores, da natureza, vai então se iniciando novamente, bem baixinha, bem calminha...
Já noto, numa fina linha de percepção, os lençóis d'água se divertindo à minha volta e fazendo me mover, quase imperceptivelmente, num movimento de vai-e-vem... Para frente, e para trás, de um lado... E outro...
Sutil.

A Maçã!
Eu a olho. Meus olhos falam: "Eu a dei um beijo."
Mas ela me induziu a isso.
Nela, havia toda a sabedoria da Natureza. Como se fosse o centro, o núcleo, a nascente de um grande rio de harmonia, que chega então à tenebrosa cachoeira... E vai caindo! E se dá conta então da liberdade do Amor!
Amar durante uma queda d'água de 215 metros de altura e desconhecer o medo !!

A maçã eu deixo intacta... Solto-a pela maciez da água que a leva. Até porque ninguém terá poder de transformá-la para o que ela não é. São segredos intactos da união celeste. Ela se utilizou de meus instrumentos humanos, mecanismos, para traduzir sua mensagem. Eu existo, e saboreio a água da Fonte da Existência. A água me saboreia.

E a Maçã, eu digo agora, foi ela que me beijou.