Descoberta do Absoluto (Paul Brunton)


Na natureza, a soberania pertence às forças silenciosas.
A lua não faz o menor ruído e não obstante, arrasta milhões de toneladas de água do mar no vaivém obediente ao seu comando.
Não ouvimos o sol levantar-se, nem as estrelas ocultarem-se. Assim, a aurora da nova vida surge silenciosamente no homem, sem que nada a anuncie ao mundo.

Só na quietude pode o conhecimento do Eu Superior manifestar-se. Somente em profundo silêncio interior podemos ouvir a voz da Alma. Os argumentos ocultam-na e o excesso de palavras ensurdece-a e abafa-a.

A vida ensina-nos silenciosamente, enquanto que os homens instruem em voz alta.

A preciosa descoberta do verdadeiro eu dentro de nós só pode ser feita quando a mente estiver em repouso; as palavras apenas confirmam a realidade, mas não a explicam e jamais a poderão explicar, pois a Verdade é um estado de ser e não uma torrente de verbosidade.

O argumento por mais inteligente que seja, não substitui a realização pessoal.
Devemos experimentar se queremos viver a experiência.

A palavra "DEUS" não terá sentido para mim, antes de conseguir pôr-me em contacto com o absoluto dentro de mim mesmo e só então poderei inclui-la no meu vocabulário.

Os grandes problemas da existência individual, os sublimes tormentos da alma que assediam qualquer pessoa sensata, não podem ser resolvidos na região limitada do cérebro; ao passo que as respostas plenamente satisfatórias, esperam-nos no âmago sem limite do nosso próprio ser, substância divina da nossa natureza oculta.

O cérebro responde com palavras estéreis, enquanto a resposta do espírito é a vivência maravilhosa da iluminação interior.

O recinto da consciência está no âmago mais intimo de nós mesmos; cada um possui uma porta secreta que se abre para a luz, mas se não quiser fazer o esforço para abri-la condena-se a si próprio a permanecer nas trevas.
Aprendei a pôr-vos em contato com o Eu Superior e resolvereis o problema a sós, de forma definitiva e independente do que diga qualquer livro, seja sagrado ou secular.

Alguns chamam de "meditação" este exercício, nome tão bom como outro qualquer. Chamar-lhe-ei repouso mental. A única maneira de entender o que significa exatamente a meditação é praticá-la. "Nem quatro mil volumes de metafísica vos ensinarão o que é a Alma" - exclamou Voltaire.
Como tudo o que tem valor, os resultados da meditação adquirem-se com muita lentidão e assiduidade e trabalho. Porém quem a pratica com o espírito requerido pode estar certo de alcançar a meta. Começamos com as provas experimentais e terminamos com a experiência divina.
A meditação é uma arte quase perdida no Ocidente. Poucos são os que a praticam e entre esses ainda menos compreendem o que estão a fazer.

O hábito de dedicar todos os dias alguns minutos para o recolhimento e repouso mental, prima pela ausência na vida dos povos ocidentais. Contudo, é um hábito de importância vital, cujos benefícios, se praticado, não podem ser demasiado exagerados, mas se negligenciado conduz a tristezas e aflições. Por mais que resistamos a este direito divino sobre nós durante o dia, somos incapazes de resistir ao eu interno durante o sono profundo e sem sonhos.
Então somos capturados pela Alma; então gozamos de repouso na nossa própria natureza, ainda que inconscientemente.

O controle do pensamento é difícil de se obter e as suas dificuldades nos surpreenderão, o nosso cérebro se rebelará. Tal qual o mar, a mente humana está incessantemente ativa. Mas tal controle pode ser feito.
No centro do nosso ser mora esse Eu maravilhoso, porém para atingi-lo temos de abrir um canal através de todas as touceiras de pensamentos que o cercam e que nos fazem prestar incessante atenção ao mundo material, tornando-o a única realidade.
Nós os homens modernos, já começámos a dominar a natureza, mas ainda não aprendemos a dominarmo-nos a nós mesmos.
Ondas infindáveis de pensamentos nos perseguem e oprimem; atormentam-nos durante as insónias da noite e durante o dia permanecem grudados em nós.
Se pudéssemos apenas aprender o segredo do seu domínio e supressão, poderíamos mergulhar num maravilhoso repouso, numa paz semelhante à que segundo S. Paulo, "ultrapassa o entendimento".

Os cinco sentidos prendem-nos ao mundo material como se fossem de goma e querem um contato físico constante em forma de objetos, pessoas, livros, divertimentos, viagens, e toda a espécie de atividades.
Só podemos matar o inimigo nos momentos em que os sentidos guardam silêncio.
Dominar a mente é dominar a si próprio.
A Alma que controla a maré sempre ativa dos pensamentos, pode vestir a farda de capitão e dar ordens à Natureza toda. Eis o que se chama o poder de concentração - a força que faz dos homens verdadeiros senhores do pensamento. Se nos sentimos incapazes de nos concentrar, então um pouco de prática diária nos dará a capacidade que nos falta. Os que procuram meditar, nem que seja por meia hora, com o tempo dominarão a corrente tumultuosa dos seus pensamentos vadios.

A decidida determinação da vontade iluminada de abrir o seu caminho através da sólida montanha de pensamentos e tendências do passado que o homem levantou ao seu redor, receberá um dia a justa recompensa. Ao sair por fim do outro lado, verá a luz e a paz que ultrapassam a compreensão (intelectual) humana.

A luz da mente é vaga e difusa no homem comum; cabe-nos encontrá-la até a converter num poderoso farol; depois qualquer que seja o objeto em que projetemos esta potente coluna luminosa, podemos ver claramente e adquirir pleno conhecimento sobre ele.
E este objeto pode ser meramente material ou uma idéia abstrata.
Converter o homem tão constantemente extrovertido num introvertido temporário, é uma das empresas mais valiosas. Ela o capacitará a contemplar picos serenos de puro pensamento.
Esta disciplina pode parecer um trabalho intolerável aos que a intentam, mas a recompensa vale mais do que o seu preço.

O homem-comum é um joguete do meio e das influência externas. É governado por tendências hereditárias e sugestões alheias. Ser capaz de controlar os seus pensamentos na azáfama e pressão da vida moderna, é uma valiosa conquista e a meditação produzirá tal controle. Dentro de nós está a eterna realidade que a crosta oculta. Este é o segredo da vida que tem desafiado os talentos brilhantes de homens ilustres e que será por nós descoberto e se tornará nossa jubilosa posse.

O nosso verdadeiro ser está sempre ali, mas a pressão dos nossos pensamentos e a atenção contínua que prestamos às coisas exteriores através dos sentidos abafam a suave presença do Eu.
Um dos resultados da meditação é capacitar-nos observar como funciona o Eu em relação à máquina intelectual, emocional e física.

Os intelectuais orgulhosos sentam-se nos seus débeis pedestais e esperam ser adorados, quando existe o tempo todo uma divindade habitando nas profundezas do seu coração, que é a única digna de adorações.
O verdadeiro gerador dos seus talentos e criador dos seus feitos, o ser que o satura do princípio de vida e assim lhe permite existir, satisfaz-se plenamente em permanecer em segundo plano, ignorado e despercebido pelos homens.

As grandes minas de diamantes de De Beer, na África do sul, foram descobertas por uma criança ao arrancar um pedaço de cristal negro do muro de uma velha fazenda holandesa, diante do qual, por tantos anos repassara tanta gente completamente alheia ao tesouro nos seus calcanhares!

Quantas pessoas já ouviram o suave murmúrio do seu ser interno ou perceberam a sua delicada orientação, somente para em seguida apagá-los sem nada entenderem?

Se formos bem sucedidos em levantar a ponta do véu da consciência, que o sono profundo representa, poderemos descobrir o significado do céu e da terra. Para o estudante que entrar nesta condição, morrerão necessariamente todos os pensamentos que lhe chegarem.

À mente europeia é difícil conceber um tal estado, em que a consciência humana subsiste sem pensamentos, mas poderá constatar isto pela prática e experiência.
A descoberta de uma "estrela" de cinema é celebrada pela imprensa de todo o mundo, ao passo que a descoberta do eu espiritual de um homem se faz em completo silêncio, sem os louvores do mundo. Saberemos que estamos a ingressar na aura do verdadeiro Eu pela experimentação de um sentimento de felicidade. Este é apenas o estágio inicial.
O último será uma união extática.

Kabir, o poeta-tecelão de Benares escreveu:
"Tendo abandonado as coisas do mundo,
Esqueci castas e linhagens;
Minha tecedura é agora no silêncio infinito".
Kabir, tendo pesquisado e se pesquisado a si mesmo,
Encontrou Deus em seu interior.

Quando, em nossas meditações, procuramos descobrir o nosso verdadeiro eu, das suas múltiplas máscaras chegaremos por último a um estado interno, que é realmente o mais interessante da vida. Não é inconsciência. Não é sono. Não é sonho. Dentro do seu regaço tornamo-nos conscientes de uma intensa percepção do infinito.

Entrar temporariamente nesta condição transfigura toda a natureza humana.
Quando colocamos a nossa mente em repouso e nos recordamos do que somos, os nossos esforços não necessitam ser mais premiados.
Garantimos o bálsamo para o dia e toda a vida nos parece boa.
Quando a mente se esvazia de todas as imagens e ideias, então ela se torna um espelho claro, em que se reflete a inefável divindade.

Os nossos céticos eruditos nos dirão que estes êxtases espirituais são meros distúrbios do sistema nervoso e os médicos provavelmente os rotularão de "excesso de pressão sanguínea", ou outra coisa. Há os que quererão investigar estas asserções num solene conclave.
Mais sábios seriam, no entanto se investigassem os seus próprios eus.

Pois não há melhor prova do eu interno do que experimentá-lo na prática.
É desta maneira peculiar que o homem que segue a senda da meditação, começa a acordar para a liderança da sua intuição.
Quando ele principia a sentir o impulso interior despontar nas profundezas do seu ser; quando começa a obedecer a esse impulso, deixando-o conduzir a sua consciência mais e mais para o seu interior; quando se subordina a esse profundo comando, então transporá o umbral do autoconhecimento e ingressará na câmara interna, onde o aguarda o seu ser real.

Uma vez obtida esta experiência, ainda que momentânea, ele compreenderá algo do que quero dizer ao falar do ser espiritual no homem.

Compreenderá que sem a intervenção dos cinco sentidos, nem do sonho, entrou numa condição maravilhosa, em algo que é real e transformador, que jamais experimentara.

No silêncio absoluto da sua Alma, sentirá que pensar meramente é fazer um ruído sacrílego. Neste estado elevado, ao descobrir a presença do seu eu divino, ele percebe que o melhor pagamento por este privilégio é reunir todos os seus pensamentos sobre o altar sagrado e sacrificá-los.
Neste raro momento o intelecto é cremado e de suas cinzas surge a fênix do verdadeiro eu, o imperecível Eu Superior do homem.

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O Maior Enigma da Ciência: o homem (P. Brunton)

Vivemos num globo que turbilhona vertiginosamente no espaço e cuja posição está marcada em algum lugar do grande céu entre Vênus e Marte. Há neste fato alguma coisa que provoca o riso, mas que também dá o que pensar.
Embora a distância que nos separa desses dois astros seja tão imensa que confunde a imaginação, o homem a calculou com uma exatidão surpreendente e, no entanto, esse homem é incapaz de medir o alcance da sua própria mente! Ele é um mistério para si próprio, um enigma que permanece insolúvel até a hora em que o frio abraço da morte chegue, gelando seus ombros...
Não há nisso uma ironia? Pensar que a alma do homem é menos acessível às pesquisas do que a terra onde mora! Não é surpreendentemente estranho que o homem esteja tão absorvido em estudar a face do mundo que só em época relativamente recente haja pensado em conhecer o mundo que está nele?
Por que ele se preocupa tanto com a marcha do universo que, além do mais, não cabe a ele dirigir, enquanto ele deve dirigir-se a si mesmo?
O sistema solar gira muito bem sem sua ajuda... Vive! Morre! O universo não se alarma, nem se altera... Escreveu Zangwill, o inteligente e sábio pensador.

O homem, porém, não aprecia muito essa verdade mordaz, porque sabe mais coisas sobre o funcionamento do seu automóvel do que do seu próprio ser. No entanto, os antigos ensinaram e sábios do nosso tempo confirmaram que no imo da consciência existe um veio do mais puro quilate, veio de ouro resplandecente!
Não será então mais sábio se fizermos dessa busca nosso primeiro cuidado?
Comparados com outros resultados já obtidos, a Ciência tem pouca noção no que diz respeito ao homem. Descobriu como temperar metais, lançar bombas de meia tonelada sobre cidades vizinhas e mil outras coisas de menor relevância. A descoberta da Física conheceu, durante os três últimos séculos, uma aceleração estupenda, enquanto o conhecimento sobre o homem permanece ainda na retaguarda.

Sabemos construir pontes gigantescas que atravessam rios volumosos, porém não sabemos dar um passo para resolver esse simples problema: "QUEM SOU EU?"
Nossas locomotivas percorrem terras do mundo inteiro, mas nossa mente não sabe transpor o mistério do homem. Astrônomos chegam a captar com a objetiva de seu telescópio as mais distantes estrelas, mas se nós lhes perguntássemos se conseguiram dominar suas paixões, em resposta baixarão a cabeça, confusos. Somos cheios de curiosidades em saber tudo a respeito do nosso planeta, mas ficamos indiferentes quando se fala do nosso eu profundo. Temos acumulado informações extremamente minuciosas sobre cada coisa que vemos, conhecemos, e sobre o funcionamento, a qualidade e a propriedade de todos os corpos e fenômenos terrestres. Mas não conhecemos a nós mesmos!

Até aqueles que se aprofundaram em todas as ciências existentes, ignoram os rudimentos da ciência do "Eu". Os cientistas que descobriram o porquê e do como da vida dos micróbios não conhecem o porquê nem o como da sua própria existência! Sabemos o valor de cada coisa, mas ignoramos nosso próprio e inestimável valor!
Enchemos enciclopédias de milhares de páginas com milhões de informações sobre todas as coisas, mas quem pode redigir um compêndio sequer que trate do mistério do seu próprio ser? E por que razão o que mais nos interessa é a nossa própria pessoa? Porque a "pessoa" é a única realidade da qual estamos certos. Todos os fatos da vida que nos rodeiam, todos os pensamentos íntimos do nosso ser só existem para nós quando o nosso "Eu" os percebe. O "Eu" é a última essência... A primeira noção que temos de nós e será a derradeira que conheceremos ao chegarmos a ser sábios. A verdadeira sapiência, a luz do intelecto, nos vem de dentro da esfera do "Eu". Não podemos conhecer o mundo e saber acerca das coisas senão através de certos instrumentos e dos nossos sentidos. Todavia, quem os interpreta e os utiliza é o nosso "Eu".
Somos, portanto, obrigados a reconhecer que o estudo do "Eu" é o mais importante ao qual um pensador deve dedicar-se.
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Criatividade (Osho)


Criatividade não tem nada a ver com nenhum tipo de atividade especial, com pintura, poesia, dança, canto — não tem nada a ver com nada em especial. Qualquer coisa pode ser criativa; é você que confere essa qualidade à atividade.

A atividade em si não é algo criativo nem sem criatividade. Você pode pintar um quadro sem criatividade, você pode limpar o piso sem criatividade, você pode cozinhar sem criatividade.

Criatividade é a qualidade que você acrescenta à atividade que você está realizando. Ela resulta de uma atitude, de uma abordagem íntima — de como você vê as coisas.

Portanto, a primeira coisa a lembrar é: não restrinja a criatividade a nada em especial. É a pessoa que é criativa — e, se a pessoa é criativa, qualquer coisa que ela faça...

Mesmo quando ela anda você vê que em seu jeito de andar há criatividade. Mesmo quando ela senta em silêncio, sem fazer nada — mesmo sua inatividade será uma atitude criativa.

O Buda sentado sob a figueira sem fazer nada revela-se como o maior criador que o mundo conheceu.

Quando você entender isso — que é você, a pessoa, que é criativa ou sem criatividade — então o problema de sentir-se como se você fosse alguém sem criatividade desaparece.

Nem todo mundo pode ser pintor — e também não há necessidade disso. Se todos fossem pintores, o mundo seria muito ruim; seria difícil viver! Nem todo mundo pode ser dançarino, e não há necessidade disso. Mas todos podem ser criativos.

Qualquer coisa que você faça, se a fizer com alegria, se a fizer com amor, se a sua razão de fazê-la não for puramente econômica, ela será criativa. Se algo cresce demais dentro de seu ser, se ele o faz crescer, ele é espiritual, ele é criativo, ele é divino.

Você se torna mais divino à medida que se torna mais criativo. Todas as religiões do mundo têm dito que Deus é o criador. Não sei se ele é o criador ou não, mas uma coisa eu sei: quanto mais sua criatividade aumenta, mais divino você se torna.

Quando sua criatividade atinge o auge, quando toda a sua vida se torna criativa, você vive em Deus. Assim, ele deve ser o Criador, pois as pessoas criativas são as que mais próximo dele estão.

Por que meditar? Por que buscar? (Osho)


Eu não digo que você deva meditar; eu não insisto nisso. É você que está buscando. E você tem que buscar.

É exatamente como se um homem doente perguntasse: "Por que tomar remédio?" Por que você está doente, eis por quê. Se você não está doente, então não há necessidade. Por que buscar a saúde? Não é preciso, se você está saudável. Mas se você não está saudável, então tem que buscar a saúde.

A meditação não tem sentido para um Buda, para alguém que alcançou a totalidade do seu ser. A meditação é um remédio; deve ser dispensada. A menos que você se torne capaz de prescindir da sua meditação, você não está saudável. Portanto, lembre-se: a meditação não é algo para ser carregado por todo o sempre. Chegará o dia em que a meditação terá completado o seu trabalho e não será mais necessária. Então você pode esquecê-la.

As pessoas vêm a mim e perguntam: "Quando você medita?" Nunca: eu não medito de forma alguma; não há necessidade. A meditação é apenas medicinal. Quando você está doente, em conflito, em miséria, ela é necessária.

E você pergunta: "Por que meditar?" Eu não estou dizendo que você deve meditar. Se você acha que é feliz, feliz consigo mesmo, se acha que não tem problemas, se acha que não tem preocupações, angústias, ansiedades, você não precisa meditar.

Mas você precisa. Todo mundo tem uma angústia muito profunda dentro de si, uma profunda loucura interior. E por causa disso você pergunta: por que meditar? Você pergunta por que está com medo. Através da meditação você pode perder a sua loucura, a sua ansiedade, a sua angústia, e você se acostumou tanto a tudo isso, habituou-se tanto!

Essa amizade se prolongou por tanto tempo que você vai se sentir solitário se se tomar saudável, muito solitário. Se uma pessoa tem vivido com dor de cabeça por toda a vida e, de repente, a dor de cabeça desaparece, ela sentirá como se tivesse ficado sem cabeça. Agora, ela não poderá sentir a própria cabeça!

Você está acostumado com as suas misérias. Elas lhe dão a sensação de existir. Se você não tem do que se queixar, você sente que não existe. Essa é a razão pela qual as pessoas se queixam todos os dias com todo mundo. Conversam a respeito de suas misérias e ficam muito felizes quando falam sobre isso.


Olhe para uma pessoa quando ela está falando sobre suas misérias. Ela sente que é alguma coisa. Quanto mais fala, quanto mais exagera o seu sofrimento, mais importante ela se torna. Olhe para o rosto de uma pessoa que expõe suas misérias. Parece que ela está em êxtase!

Se você vai a um médico e suspeita de um câncer ou de uma tuberculose, alguma coisa séria, e o doutor diz: "Não é nada. Uma aspirina resolve" - você se sente decepcionado. Um sofrimento tão profundo e ele diz que não é nada, apenas uma doença comum que vai desaparecer com um remédio comum. Você se sente como se tivesse sido deposto. Você estava sentado no trono do câncer e tudo não passava de uma doençazinha; um remédio qualquer vai curá-lo.

Você fala a respeito de suas misérias, de seus males, de suas doenças; você não engrandece. E quando você os glorifica, sente que você mesmo está sendo glorificado.

Por isso que a mente, a mente doente, pergunta: Por que meditar? A própria questão mostra que você precisa de meditação. O 'por quê', o próprio 'por quê'. Uma pessoa que não tem necessidade de meditação nunca pergunta por quê. Ela para de perguntar, porque todas as perguntas fazem parte da ansiedade. Se você está interiormente silencioso, em paz, feliz, você não pergunta.


Os filósofos são os mais miseráveis dos homens. Eles estão sempre perguntando: "Por que isto? Por que aquilo?" O constante "por quê" é uma doença interna. Olhe por este lado: só quando algo vai mal você pergunta por quê. Quando tudo está bem, você nunca pergunta por quê. Você pergunta por que há miséria; você nunca pergunta por que há bem-aventurança. Pergunta por que há morte; você nunca pergunta por que há vida. Pergunta por que há ódio; nunca pergunta por que há amor.

Quando há amor, não há perguntas a fazer. Você o aceita totalmente. Quando há ódio, surge a questão. Quando você está em estado de graça, nenhum questionamento, nenhuma investigação, nenhuma filosofia aflora. Quando você está angustiado, sofrendo, você pergunta: "Por que isto? Por que estou sofrendo? Por que todo mundo está sofrendo?" Só quando algo vai mal as perguntas aparecem. Quando tudo vai bem, não há questionamento. Você aceita a existência em sua totalidade.

Portanto, lembre-se disto: se você tem um "por quê" você precisa de meditação, porque sem meditação o "por quê" não irá desaparecer.

E a resposta vem apenas para os que pararam de perguntar. A resposta só pode ser compreendida pelos que não estão dispostos a questionar. Uma mente inquisitiva não está disposta a ouvir. Continuará questionando.

As perguntas são geradas na mente como as folhas crescem numa árvore. Se sua mente está mal, as perguntas aparecerão. Só se sua mente desaparecer e a totalidade e a saúde interiores forem conseguidas, as perguntas cessarão.

E quando não há mais perguntas, você alcançou a resposta derradeira. A resposta suprema não está nas palavras. Você a vive; você se transforma nela.

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Yaven Avenoa - JohnLucasArte

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Acolhido nas asas abertas da Ressurreição
Atravessar colunas de fogo da transformação
A passar pelo tempo, a passarar pelo espaço
A voar como pássaro naquele divino abraço
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Ave de todas as aves
Aqui estão as chaves
Assim portal se abre
Aí que início se acabe
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As asas de infinito esplendor
Agora ilumina com todo Amor
Amor em Luz transcendental
A Vida mais pura e essencial
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A sublime Ordem assim ordeira
Abrange cosmos à sua maneira
À harmônica Harmonia tão fiel
Abriga o Ser na taça do Troféu
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Altíssimos voadores de sua Natureza
Assemelham o Triunfo de sua sutileza
A nobre calma de tamanha Liberdade
Aventurando-se no âmago da Verdade
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Ar que eleva os fluídos astrais
Águas cósmicas são especiais
A existência vitoriosa da Presença
Ama eterno princípio da Nascença
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Aos incêndios do lindo renascer
A senda do infinito assim tecer
Acender a chama da bela vida
Ascender à Ascenção querida
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A Mensagem é presente
A função é permanente
A galáxia um presente
A Morada resplandecente!
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A nos resplandecer...
Res - seR, planos-de-ser
O Ser planos descer
E salvando abençoar o Ser.
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Elohegrael - JohnLucasArte


O Rei dos Reis aqui reinar
Seus reis riem nos raios
Desde a Imanência circular
Ao viés de velhos retalhos

Por entre as nuvens leoninas
E árvores radiantes a crescer
Reina Luz em luas cristalinas
Nas estrelas cósmicas a tecer

Sagrada Leaniência piramidal
Da azulada cúpula espiritual
São céus enormes que ilumina
Essa Mãe Terra é sua menina

Reinado das pétalas supremas
Floresce no coração da Vida
A Vida Própria em Luz serena
Onisciência da Própria Vida

Vida das árvores magnânimas
Alcançam os planetas divinos
De nobrezas sempre equânimes
E as realidades sublimes

A repousar nos arvoredos edênicos
Lá na copa da Árvore Maior
Estão os Olhos de infinitos idênticos
Lá no Lar da Luz Melhor

Grande Sol Central das galáxias que giram
Sobe em caldas as estátuas que O miram
Todas centelhas de centros solares sentiram
Atômicos sistemas quânticos O assistiram

Emanando a Identidade Absoluta
Em fragmentos luminosos de corpos
O Pai do Universo lhe dá a escuta
De santificados elementos em lótus

O Calor de seu exímio fulgor
Do conterrâneo Fogo que arde
A Luz ilustre que emana o amor
No Coração vem cedo quase tarde

Dos olhos serenos no azul do céu
Sorriso fino em semear aéreo mel
O rio conduz água boa ao seu redor
Floresta abre nobre esplendor maior

As mãos da vida a celebrar
Com suave toque confortar
Sua ternura é a leveza da água
E sua força, a excelência do ar

Por entre as nuvens tão douradas
A refletir consciências refratadas
Está uma das espelhadas faces
Onde uma cachoeira é sua taça

Desaguando formosa cantoria
Embalando gloriosa sinfonia
A nobre alegria vem celestial
Emerge os pássaros do Astral

O abraço desta natureza real
As árvores sorriem sem igual
Deixando atravessar melodias
Aqui no Jardim do Novo Dia!

Sou Eu a minha morada
No astral sagrada casa
Irradiando assim a natureza
Na Suprema Luz da fortaleza

Palavras são fracas aos dormentes
Quando sentem a dor da mente
Sinais são claros aos livres despertos
Onde sentam na meditação de perto

Todas as reverências sagradas
A celebrar a magnificência que agrada
Agradece almas sábias
Que descem Superiores
Subindo os Inferiores
Na União Cósmica da igualdade
Senhor assim faz Todos da Vida Senhores!
Assim É, Assim Seja,
Amen! Amen! Amen! Amen!

Cristo: a realidade da sua divina presença (E. Tolle)


Não se apegue a uma única palavra. Você pode substituir “Cristo” por presença, se achar mais significativo. Cristo é a essência de Deus dentro de nós ou o nosso Eu interior, como às vezes é chamado no Oriente. A única diferença entre Cristo e presença é que Cristo remete à nossa existência divina sem se importar se estamos ou não conscientes dela, ao passo que a presença significa a nossa divindade vigilante ou a essência de Deus.

Se admitirmos que não há passado nem futuro em Cristo, poderemos esclarecer muitos mal-entendidos e falsas crenças sobre Ele. Dizer que Cristo foi ou será é uma contradição. Jesus foi. Foi um homem que viveu há dois mil anos e exerceu a sua divina presença, a sua verdadeira natureza. Suas palavras foram: “Antes que Abraão existisse, Eu sou”. Ele não disse: “Eu já existia antes de Abraão ter nascido”. Isso significaria que Ele ainda estaria dentro da dimensão do tempo e da identidade da forma. As palavras Eu sou utilizadas em uma frase que começa no tempo passado indicam uma mudança radical, uma descontinuidade na dimensão temporal. É uma afirmação, ao estilo zen, de grande profundidade. Jesus tentou transmitir diretamente, e não através de divagações, o significado de presença, de auto-realização. Ele foi além da dimensão da consciência governada pelo tempo e penetrou no domínio da eternidade. Foi assim que a dimensão de eternidade surgiu neste mundo. A eternidade não significa tempo sem fim, mas sim tempo nenhum. Assim, o homem Jesus se tornou o Cristo, um veículo de pura consciência. E qual é a própria definição de Deus na Bíblia? Será que Deus disse: “Eu fui e sempre serei?” Claro que não. Isso teria conferido realidade ao passado e ao futuro. Deus disse: “EU SOU O QUE SOU”. Aqui não existe o tempo, só a Presença.

A “segunda vinda” do Cristo é uma transformação da consciência humana, uma mudança do tempo para a presença, do pensamento para a consciência pura, e não a chegada de algum homem ou de alguma mulher. Se “Cristo” estivesse para chegar amanhã, revestido de alguma forma externa, o que ele ou ela poderia nos dizer além do seguinte: “Eu sou a Verdade. Eu sou a Divina Presença. Eu sou a Vida Eterna. Estou dentro de você. Estou aqui. Eu sou o Agora”.

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Nunca personalize Cristo. Não dê uma forma de identidade a Cristo. Avatares, mães divinas, mestres iluminados, os pouquíssimos que realmente são, não têm nada de especial como pessoas. Como não têm de sustentar o ego, defendê-lo ou alimentá-lo, são mais simples do que as pessoas comuns. Qualquer pessoa com um ego forte os olharia como insignificantes ou, mais provavelmente, nem os veria.

Se você for atraído para um professor iluminado, é porque já existe presença bastante em você para reconhecer a presença no outro. Houve muitas pessoas que não reconheceram Jesus ou Buda, assim como há – e sempre haverá – pessoas que são levadas a falsos professores. Egos são atraídos por grandes egos. A escuridão não consegue reconhecer a luz. Portanto, não acredite que a luz está fora de você ou que ela só pode vir através de uma forma específica. Se só o seu mestre for a encarnação de Deus, quem é você então? Qualquer espécie de exclusividade é uma identificação com a forma, e a identificação com a forma significa o ego, não importa o quanto ele esteja bem disfarçado.

Utilize a presença do mestre para ver um reflexo da sua própria identidade por trás do nome e da forma e para se tornar mais intensamente presente. Em pouco tempo você verá que não existe nenhum “meu” ou “seu” na presença. A presença e única.

O trabalho em grupo também pode ser de grande utilidade para intensificar a luz da nossa presença. Um grupo de pessoas atingindo juntas um estado de presença gera um campo de energia de grande intensidade. Isso não só aumenta o estado de presença de cada membro do grupo, mas também ajuda a libertar a consciência coletiva humana do seu estado normal de dominação da mente. Essa prática vai tornar o estado de presença cada vez mais acessível às pessoas. Entretanto, a menos que um membro do grupo já esteja firmemente estabelecido na presença e consiga sustentar a freqüência de energia desse estado, a mente pode facilmente voltar a dominar e sabotar os esforços do grupo. Embora o trabalho em grupo seja valioso, ele não é o bastante e você não deve depender dele. Nem de um professor ou de um mestre, exceto durante o período de transição, quando você está aprendendo o significado e a prática da presença.

Este é um Universo Espiritual - JOEL S. GOLDSMITH

[...]

Este é um universo espiritual e somente Deus é poder. Seria ateísmo temer qualquer forma de matéria.

O princípio envolvido é a compreensão de que acreditar que a força material é força, nada é, senão ateísmo. Deus é Espírito e força espiritual é a única força verdadeira. Qualquer outra declaração de força pode ser invertida ou anulada.

Entende que Deus é o centro do poder, da vida, do amor e da atividade. Não olha para o “homem cujo fôlego está no seu nariz” (Isaías, 2:22). Não deposita sua fé em “príncipes” (Salmos, 118:9), em notas de dólares, em frascos de remédios, climas ou temperatura. Sua fé integral está no reino de Deus estabelecido dentro dele.

Recorde a afirmação do Mestre para Pilatos: “Nenhum poder terias contra mim, se de cima não fosse te dado” (João, 19:11). Agora, vamos encarar os fatos. Pilatos era o governador, dotado de autoridade total conferida pelo César. Ele era tanto o juiz como os jurados. Isso era a aparência. Assim, o Mestre negou que Pilatos tivesse qualquer poder, exceto o que veio do Pai. Isso é exatamente o que eu estou dizendo aqui. O homem não tem poder para ser justo ou injusto, bom ou mau, pecador ou puro, doente ou são, porque todo poder está em Deus e se exterioriza, a partir de dentro do Pai.

No momento em que você começa a perceber esse fato, começa a retirar poder dos conceitos de formas, pessoas e condições. Você faz isso conscientemente. Não há poder fora de você que possa substituí-lo. É você, você mesmo, que deve aprender a olhar para uma pessoa como o Mestre olhou para Pilatos e reconheceu: “Oh, não, vejo agora que o que eu estou vendo como você é um conceito, uma imagem, um efeito, mas o poder está em Deus, que o criou. Mesmo seus pensamentos não têm poder. Deus que elabora seus pensamentos, é que tem poder. Você não tem poder. Todo poder está em Deus”.

Você aprende a fazer o mesmo com a enfermidade, com o pecado ou com a necessidade. Você não fecha apenas seus olhos e diz: “Não existe tal coisa” ou “Não há realidade nela”. Isso é fazer como o avestruz que enterra sua cabeça na areia. Ignorando um fato, você não pode mudar a si mesmo ou uma coisa. Você tem que estar disposto para olhar de frente qualquer tipo de erro – qualquer forma, não importa sua aparência horrorosa e torpe. Olhe bem para ela com a convicção: “Você não tem poder. O poder está em Deus que o governa, que o move, que é sua mente, sua Alma, seu Espírito, que lhe deu a vida, que lhe deu a alma”. Desse modo, você depara com uma situação e pergunta: “De onde você veio? Você é um efeito; você não é uma causa. Alguma coisa o gerou. Quem quer que o tenha gerado é o poder. E o que poderia ter gerado você, se Deus fez tudo o que foi feito e nada foi feito, exceto o que Deus fez?”

Na realidade, não há poder em nada sobre que você possa pensar, ver, ouvir, saborear, tocar ou cheirar. Todo poder está em Deus. À medida que você persiste nisso, como uma atividade da consciência todos os dias, torna-se um assunto de convicção.

Qualquer coisa visível – se você puder vê-la, prová-la, ouvi-la, tocá-la ou cheirá-la - existe como efeito e não há poder no efeito. Todo poder está na Causa. Não odeie o efeito, não o tema e não o ame sem razão. Se ele for alguma coisa em seu nível de bondade, deleite-se com ele. Não o ame, mas lembre-se que a parte que você está desfrutando é de Deus.

Qualquer que seja o problema, não importa o seu tamanho, não tem poder. Não obstante sua importância, profundidade ou amplitude, ele não é nada. Permaneça quieto na percepção disso, porque Deus é infinito, o que está aparecendo não é nada. É sem lei, substância ou causa. Não haveria erros de qualquer natureza na terra, se não houvesse a crença universal em dois poderes, que age hipnoticamente em sua consciência.

Como um ser humano, você nasceu com a experiência da aceitação inconsciente do bem e do mal.

Compreenda que tudo o que você ouve no rádio, vê na televisão ou lê nos jornais é o “braço da carne” (II Crônicas, 32:8). Não tem poder e você não precisa temer o que o homem mortal pode fazer, porque ele tem apenas poder temporal, que não é poder diante de Deus. Você tem o Senhor Deus Onipotente, o Todo-Poderoso, o único Poder. Portanto, não há poder em todos os rumores de infecção, contágio, guerras e acidentes.

Quando há rumor de uma epidemia no ar, mesmo que você não tenha ouvido nada sobre ela, mesmo se seu rádio e sua televisão estiverem desligados e você tiver deixado de ler os jornais, ela conseguiria se transmitir a você sem seu conhecimento consciente. Muitas pessoas dizem: “Isso me aconteceu inesperadamente” ou “Eu não estava pensando nisso e, no entanto aconteceu”. O mal de toda e qualquer natureza age invisivelmente como uma crença em dois poderes e, porque é uma crença universal, age universalmente na consciência humana. Quando você não a rejeita mais conscientemente, acaba se tornando uma vítima dela.

Eu rejeito conscientemente a crença de que haja qualquer poder, exceto o de Deus, do Espírito. Eu rejeito conscientemente a crença de que haja uma lei material ou mental, porque Deus é Espírito e Deus é a única lei e o único legislador. Portanto, toda lei deve ser espiritual.

Nada é mais importante do que a primeira meia hora de seu dia. Nela, você estabelece o modelo do dia. Negligenciando isso, você se torna uma parte da crença universal, permitindo qualquer uma ou toda a infinita variedade das crenças universais tocá-lo. Pela firme adesão à sua compreensão de um Poder, você se separa da crença universal, coloca-se sob a orientação do Espírito e sobrevive a partir desse princípio maior da vida.

Onde quer que você encontre os pares de opostos, o bem e o mal, ou você está tratando com a matéria ou com a mente. No exato momento em que você se elevar acima delas, você encontrará um nível de consciência no qual não há bem e mal. Há apenas ser espiritual puro, infinito, eterno, harmonioso. Essa é a vida como havia no 'Jardim do Éden', antes que a crença em dois poderes fosse aceita.

Deus, a Consciência divina, que é sua consciência individual, está onde você se encontra. Porque Ele é onipotente, Ele tem todo o poder para fazer por você. Porque Ele é amor divino, é Seu grande prazer dar a você o reino. Você precisa apenas permanecer na compreensão da presença de Deus, entendê-LO como AQUI e AGORA. Então você terá a percepção mística de que nunca pode estar em qualquer lugar onde Deus não está.

A individualidade humana é sempre limitada, sempre finita, consistindo, na sua maior parte, daquilo que aprendemos através da educação, da experiência pessoal, do ambiente e das influências hereditárias. Oculto atrás deste eu pessoal, contudo, está nosso eu verdadeiro. Há um outro Ser, Algo além da pessoa física e mental. Paulo denominou esse Algo de Cristo, que realmente quer dizer o filho de Deus, a identidade espiritual de nosso ser, a nossa realidade.

Nós não escolhemos ser materialistas. Pelo fato de termos nascido numa era materialista, assumimos o caráter de consciência material. Toda doença, pecado, temor e a própria morte são impostos a nós. Todo erro tem sua base na crença universal que surge da aceitação de dois poderes. No nível material da existência, há dois poderes e um é usado para dominar o outro. No nível mental, o poder do pensamento ou o poder do raciocínio correto é usado para vencer o erro. Mas isso não é verdade no nível espiritual. Nele, há apenas um poder. Portanto, você deve reconhecer que o que se está apresentando a você não é nem presença nem poder: não tem lei, nem substância, nem atividade, nem realidade. Portanto, é necessário não resistir a ele.

Krishnamurti - A Vacuidade do Espírito


“Um recipiente só é utilizável quando está vazio, e um espírito cheio de crenças, dogmas, afirmações e citações, é na verdade um espírito estéril, uma máquina de repetição. Deste estado de vazio é que tentamos sempre fugir por todos os meios. E é por isso que a solidão é perigosa. Ela nos coloca em estado de receptividade. Procuramos, então, aquilo que chamamos de divertimentos, encher o silencio por barulho que, transportando-nos ao passado ou ao futuro, nos afastam do vazio. Mobiliamos a solidão com pensamentos defensivos. Mas esta vacuidade não desaparece. Nós a negamos mas não chegamos a destruí-la. Se você chegar à evasão total irá parar num asilo de loucos onde se tornará completamente estúpido. E é exatamente isso o que acontece hoje no mundo”. A única solução para não se temer esta vacuidade é não fugir dela e ver a realidade cara a cara, sem palavras, sem pensamentos.

“O vazio criador não pode ser produzido enquanto o pensador estiver atento e for observador, a fim de consolidar sua experiência. Se você quiser esta experiência, a terá. Mas não será o vazio criador. Será a projeção do seu desejo, a ilusão. Mas comece a observar, a ser consciente de suas atividades em cada instante, a olhar o conjunto do seu processo como um espelho, e à medida que se aprofundar chegará, finalmente, a esta vacuidade que somente pode produzir a renovação. O estado de vazio criador não se cultiva; ele chega sem ser convidado. E somente nele pode acontecer a revolução criadora.”

Esta vacuidade se faz presente quando a vemos como um abismo. Quando a procuramos ela escapa. Ela não tem lugar, não tem solidez, e por isso mesmo, por causa desta fluidez, é que aparece somente àquele que não sabe.

“As idéias não são a verdade. A verdade deve ser vivida plenamente, de momento a momento. Isto é a verdade. A capacidade de abordar tudo, instante a instante, à maneira de um ser novo, não condicionado pelo passado, de maneira que não existam mais efeitos cumulativos agindo como uma barreira entre o eu e aquilo que é. A idéia só para quando há amor. E este não é memória nem experiência. O amor não pensa.”

A mobilidade da verdade precisa de uma grande mobilidade de ação acessível àquele que não se prende a nada, àquele que é livre como o vento por que viu a realidade. A rapidez de sua percepção engloba a verdade que é através de todas as evoluções. Não há mais fixidez, fórmulas, mas liberdade luminosa. Isento de toda formação, ele não é prisioneiro de nenhuma fórmula, não há mais busca ou espera da realidade. Os limites do pensamento foram ultrapassados, ele atingiu o inexprimível, o “sem palavras”. “Se a verdade era um ponto fixo, não era a verdade, mas apenas uma opinião. A verdade é o desconhecido e aquele que a busca nunca a encontrará, porque todos os elementos que a compõem pertencem ao conhecido. O espírito é o resultado do passado, um produto do tempo. É o instrumento do conhecido e não pode descobrir o desconhecido. Pode ir apenas do conhecido ao conhecido.”

'Livrar-se da ilusão' é ilusão - JOEL S. GOLDSMITH

[...]

Sempre houve, sobre a face da terra, pessoas espiritualmente iluminadas que perceberam a inexistência da morte; algumas perceberam inclusive que não existe nascimento. Há aquelas que viram que não existe doença sobre a terra, nem realidade em quaisquer destas aparências negativas. No início, Gautama, o Buda, fundamentou toda a sua revelação não sobre o que Deus é, mas sobre a base de que o erro não é. A revelação que lhe veio, quando meditava, foi de que a totalidade destas aparências é ilusão, não é realidade, algo não se dando no tempo ou espaço, mas ocorrendo somente num conceito mortal universal.

Jesus teve esta percepção, pois, olhando para Pilatos, disse: “Não terias poder algum”, mesmo com todas as aparências testificando o “fato” de ser Pilatos o legislador e o poderoso naquela região. Jesus era capaz de olhar toda doença e dizer à pessoa: “Qual é o teu impedimento? Levanta-te, toma teu leito e anda”. Era capaz de olhar para o pecador e dizer: “Nem eu te condeno”. Eu não penso que Jesus tenha condenado o pecado. Ele reconhecia que o pecado, como pecado, era inexistência.

Muito pouco deste princípio veio à luz nos anos seguintes, embora alguns místicos maravilhosos tivessem passado pela terra, e atingido a consciente realização de Deus, a unicidade consciente com Deus, a união consciente com Deus; porém, em suas revelações, não notaram que atribuir a Deus a causa daqueles erros era tornar Deus responsável por eles, era fazer deles realidade. Assim, tivemos muito pouco sobre o assunto, até que surgiu o livro Ciência e Saúde original. Na obra original, tornou-se claro, outra vez, e pela primeira vez em séculos, que Deus é o único Poder e que estas aparências de discórdia não têm realidade. A Sra. Eddy reuniu todas as discórdias que, juntas, receberam o nome de mente mortal; depois, disse que a mente mortal não era uma coisa, mas apenas um termo para designar o “nada”. Alguns de seus primeiros alunos, dois deles inclusive eu pude conhecer em Boston, foram maravilhosos curadores, sem mesmo terem profundo conhecimento de religião ou de Ciência Cristã. Foram, porém, sanadores grandiosos por terem captado bem este ponto único; assim, fossem quais fossem os problemas a eles trazidos, apenas sorriam e reconheciam: “Mente mortal, o nada”. Conseguiam se voltar daquilo sem reagir, sem temer, sem se proteger, apenas devido à percepção de que tudo que se lhes apresentasse como pessoa ou condição malignas poderia ser englobado naquela terminologia: mente mortal. E então, a expressão mente mortal passou a ser vista como um nome, não como alguma condição ou pessoa, não como uma coisa, mas como um nome, utilizado somente para designar o “nada”.

Assim como este ensinamento ficou perdido após a geração de Gautama Buda, também teve sua metade provavelmente perdida na Ciência Cristã. Alguns ainda existem que captaram este ponto, porém, não muitos. Nos dias de Buda, o erro era este: aqueles não próximos ao mestre original tomaram a palavra ilusão e a externaram. Diziam que pecado, doença e morte eram uma ilusão; porém, que era preciso se livrar da ilusão. O sentido original era outro: tudo já era mera ilusão, uma imagem mental do nada. Uma ilusão no pensamento, uma imagem mental, sem substância, sem realidade, não passando de uma crença infundada sobre algo, um boato.

Porém, os hindus passaram a chamar este mundo de maya, de ilusão, e o descartaram, ora tentando escapar dele pela morte, ora ignorando-o. Contudo, os Cientistas Cristãos, muitos deles, cometeram o mesmo erro. Deixaram o hábito de dizer “estou com resfriado, estou com gripe”, para dizer “Eu tenho uma ilusão; você me ajuda a ficar livre dela?” Ou, ainda, “Você me protegerá ou me fará um trabalho de proteção da ilusão?” Ora, um praticista poderia estar tão ocupado em Boston, às quartas e domingos, que não teria nada a fazer, senão sentar-se dia e noite e fazer trabalho de proteção do inimigo.

Tudo isso volta à natureza inata, humana, que realmente acredita em dois poderes (o poder do bem e o poder do mal, chamado o poder de Deus e o poder de Satanás, ou, em filosofia, bem e mal, ou, na metafísica, imortal e mortal: sempre um par de opostos), em vez de se encarar um como tudo e outro como nada, uma “ilusão”, maya, um falso conceito de algo, uma ignorância de algo.

Você tem se defrontado com um problema e pensado sobre como encará-lo? Então, neste instante, terá se esquecido da existência de um único poder, e de que tal compreensão elimina a necessidade de encarar algo como um problema. Você tem sido chamado para resolver o problema de alguma pessoa, e ficado a imaginar se possui suficiente compreensão ou suficiente poder divino? Caso esteja assim agindo, está revelando, nesse momento, que não conheceu a Verdade.

Não é o seu conhecimento da Verdade ou o Poder de Deus que enfrentam problemas, mas sim a realização de Deus como sendo o único poder. Nesta compreensão, não há problemas a serem enfrentados, não há leis a serem dominadas e não há males a serem superados. Tudo não passa de ilusão dos sentidos.

Tendo lido os textos de O Caminho Infinito, mesmo por curto período, você já deve saber que “Deus É”, e isso lhe basta, pois, sendo Deus infinito, não pode haver coisa alguma além ou ao lado de Deus. Como Deus é onipresente, não existe nenhuma outra presença maligna ou de natureza destrutiva. Como Deus é onipotente, não há poderes do mal com que lidar, e nem mesmo pensamentos malignos. Como Deus é onisciente, Deus é Todo-conhecedor, e nada mais há para você saber ou realizar sobre alguma coisa, exceto repousar nesta percepção de Deus como “aquele que É”.

Você tem acreditado que através de pensamentos, mesmo os de natureza espiritual, a harmonia do reino de Deus pode se modificar? Ou um reino místico pode ser destruído? Quando você se senta em meditação, prece ou tratamento, você se compenetra de que sua única função é habitar “no que “É”?

Deus é amor; você não irá fazer com que Deus se torne amor, ou fazer com que Deus ame. Deus é vida; você não irá salvar a vida de alguém ou evitar a morte de alguém. Você irá conhecer a Verdade libertadora. Do que ela nos liberta? Da ignorância e da superstição, da crença num poder apartado de Deus. Se estiver buscando a Deus por algo, ou por alguém, será você quem estará acreditando em poder apartado de Deus.

Os seus períodos de prece ou tratamento são de quietude? Um habitar no Verbo que Deus É? Ou você estaria tentando fazer algo referente a alguma coisa? Estaria você tentando conseguir de Deus que Ele fizesse algo, no que diz respeito a alguma pessoa ou coisa? Ou você estaria habitando "naquilo que É"?

Deus É; Eu Sou: saber isto lhe será o bastante. Você permanece ainda temeroso, devido ao seu “paciente”, aluno ou filho? Então dê a si mesmo o "tratamento", até elevar-se à percepção de que, apesar de todas as aparências do mal, vistas na terra, nenhuma delas tem mais realidade do que uma ilusão qualquer. Como há suficiente Graça divina e Maná divino para atender às necessidades de cada momento, o seu conhecimento desta Verdade promoverá a remoção de suas dúvidas e temores, fazendo com que seu “paciente” responda instantaneamente à sua percepção de que “Deus É”.

A Graça de Deus não depende de coisa alguma, e isto significa que todo estudante está suficientemente avançado para se defrontar com qualquer necessidade, bastando-lhe a compreensão dos princípios de O Caminho Infinito: o princípio da “É-dade”/Seidade de Deus, e o princípio da “imediata disponibilidade da Graça e do Maná divinos”, para dar o atendimento pleno a cada instante.

Em cada período de meditação, prece ou tratamento, relaxe todos os esforços mentais, pois eles apenas lhe trariam frustrações, ou agiriam como barreiras para sua percepção da instantaneidade da paz, harmonia e plenitude espirituais.

Entre, de uma vez por todas, na quietude e no silêncio, e ouça a “pequena voz suave”, porque quantidade alguma de pensamentos será de benefício para alguém.

[...]

O Poeta - Khalil Gibran

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro uma solidão pesada e um isolamento doloroso. Sou assim levado a pensar sempre numa pátria encantada que não conheço, e a sonhar com os sortilégios de uma terra longínqua que nunca visitei.

Sou um estrangeiro para minha alma. Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz. Quando meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, meu outro Eu estranha o que ouve e vê, e minha alma interroga minha alma. Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.

Sou um estrangeiro para o meu corpo. Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que minhas profundezas não reconhecem.

Quando caminho nas ruas da cidade, os meninos me seguem gritando: “Eis o cego, demos-lhe um cajado que o ajude.” Fujo deles. Mas encontro outro grupo de moças que me seguram pelas abas da roupa, dizendo: “É surdo como a pedra. Enchamos seus ouvidos com canções de amor e desejo.” Deixo-as correndo. Depois, encontro um grupo de homens que me cercam, dizendo: “É mudo como um túmulo, vamos endireitar-lhe a língua.” Fujo deles com medo. E encontro um grupo de anciãos que apontam para mim com dedos trêmulos, dizendo: “É um louco que perdeu a razão ao freqüentar as fadas e os feiticeiros.”

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro e já percorri o mundo do Oriente ao Ocidente sem encontrar minha terra natal, nem quem me conheça ou se lembre de mim.

Acordo pela manhã, e acho-me prisioneiro num antro escuro, freqüentado por cobras e insetos. Se sair à luz, a sombra de meu corpo me segue, e as sombras de minha alma me precedem, levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo. E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos.

Idéias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis. À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos. E almas de nações esquecidas me fitam. Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso. Quando procuro segura-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma...

Caminho na selva inabitada e vejo os rios correrem e subirem do fundo dos vales ao cume das montanhas. E vejo as árvores desnudas se cobrirem de folhas num só minuto. Depois, suas ramas caem no chão e se transformam em cobras pintalgadas.

E as aves do céu voam, pousam, cantam, gorgeiam e depois param, abrem as asas e viram mulheres nuas, de cabelos soltos e pescoços esticados. E olham para mim com paixão e sorriem com sensualidade. E estendem suas mãos brancas e perfumadas. Mas, de repente, estremecem e somem como nuvens, deixando o eco de risos irônicos.

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa. Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria.

Krishnamurti - Acredita em Deus? É ateu?

Pergunta: Acredita em Deus? É ateu?

Krishnamurti: Suponham que todos vocês acreditam em Deus. Deve ser assim, porque são todos Cristãos, pelo menos afirmam sê-lo, portanto devem acreditar em Deus.

Ora, por que é que acreditam em Deus? Por favor, vou responder dentro em pouco, portanto não me chamem ateu, ou teísta. Por que é que acreditam em Deus? O que é uma crença? Vocês não acreditam em algo que é óbvio, como a luz do sol, como a pessoa que está sentado ao vosso lado; não têm que acreditar. Ao passo que a vossa crença em Deus não é real. É uma esperança, uma ideia, uma ânsia preconcebida que pode nada ter a ver com a realidade. Se não acreditarem, mas se se tornarem realmente conscientes dessa realidade na vossa vida, tal como têm consciência da luz do sol, então toda a vossa conduta de vida seria diferente. Presentemente, a vossa crença nada tem a ver com a vossa vida diária; portanto, para mim, quer acreditem em Deus quer não, é irrelevante.

Portanto a vossa crença em Deus, ou a vossa descrença em Deus, para mim é a mesma coisa, porque não tem realidade. Se estivessem realmente conscientes da verdade, como estão conscientes daquela flor, se estivessem realmente conscientes dessa verdade como estão conscientes do ar fresco ou da falta desse ar fresco, então toda a vossa vida, toda a vossa conduta, todo o vosso comportamento, os vossas próprios afectos, os vossos próprios pensamentos, seriam diferentes. Quer se denominem crentes ou descrentes, pela vossa conduta não o estão a mostrar; portanto quer acreditem em Deus quer não acreditem é de muito pouca importância. É apenas uma ideia superficial imposta pelas situações e pelo meio, através do medo, através da autoridade, através da imitação. Por isso, quando dizem, “Acredita? É ateu?” eu não posso responder-lhes categoricamente; porque, para vocês, a crença é muito mais importante que a realidade. Afirmo que há algo imenso, incomensurável, imperscrutável; há uma inteligência suprema, mas não a podem descrever. Como podem descrever o sabor do sal se nunca o provaram? E são as pessoas que nunca provaram sal, que nunca estão conscientes desta imensidão nas suas vidas, que começam a perguntar se eu acredito ou se não acredito, porque a crença para elas é muito mais importante que essa realidade que podem descobrir se viverem corretamente, se viverem verdadeiramente; e como não querem viver verdadeiramente pensam que a crença em Deus é algo essencial para se ser verdadeiramente humano.

Portanto, ser um teísta ou um ateu, para mim, ambas as coisas são absurdas. Se soubessem o que é a verdade, o que é Deus, não seriam nem teístas nem ateus, porque nessa consciência a crença é desnecessária. O homem que não está consciente, que somente espera e supõe, é que conta com a crença ou com a descrença para o apoiar e para o levar a agir de uma maneira específica.

Agora, se abordarem o assunto de maneira bastante diferente, descobrirão por vocês próprios, como indivíduos, algo real que está para além de todas as limitações das crenças, para além da ilusão das palavras. Mas isso – a descoberta da verdade, ou Deus – requer grande inteligência, que não é a afirmação da crença ou da descrença, mas o reconhecimento dos obstáculos criados pela falta de inteligência. Portanto para descobrir Deus ou a verdade – e eu digo que tal coisa existe, eu tive consciência dela – para reconhecer isso, para ter consciência disso, a mente tem que estar livre de todos os obstáculos que foram criados através dos tempos, baseados na auto-proteção e na segurança. Não podem libertar-se da segurança dizendo apenas que estão livres. Para penetrarem os muros desses obstáculos, precisam de muita inteligência, não apenas de intelecto. A inteligência, para mim, é mente e coração em plena harmonia; e então descobrirão por vocês próprios, sem perguntar a ninguém, o que é essa realidade.

Agora, o que está a acontecer no mundo? Têm um Deus Cristão, Deuses Hindus, Maometanos com o seu conceito particular de Deus – cada pequena seita com a sua verdade particular; e todas estas verdades estão a tornar-se como as muitas doenças no mundo, separando as pessoas. Estas verdades, nas mãos de minorias, estão a tornar-se meios de exploração. Vocês vão a cada uma delas, uma após a outra, provando-as todas, porque começam a perder o sentido de discriminação, porque estão a sofrer e querem um remédio, e aceitam qualquer remédio que seja oferecido por qualquer seita, seja Cristã, Hindu, ou qualquer outra. Portanto, o que está a acontecer? Os vossos deuses estão a dividi-los, as vossas crenças em Deus estão a dividi-los e contudo falam sobre a fraternidade do homem, da unidade em Deus, e ao mesmo tempo negam precisamente aquilo que querem descobrir, porque se mantêm fiéis a estas crenças como o meio mais potente de destruir a limitação, que apenas a intensificam.

Estas coisas são tão óbvias. Se forem Protestantes, têm horror aos Católicos Romanos; e se forem Católicos Romanos, têm horror de todos os outros. Isto acontece em todo o lado, não só aqui. Na Índia, entre os Maometanos, entre todas as seitas religiosas acontece isto; porque para todos, a crença – essa coisa cruel – é mais vital, mais importante, que a descoberta da verdade, que é a verdadeira humanidade. Por isso, as pessoas que acreditam tanto em Deus não estão realmente apaixonadas pela vida. Estão apaixonadas por uma crença, mas não pela vida, e por isso os seus corações e mentes murcham e se tornam em nada, são vazios, superficiais.


(trecho retirado de uma palestra em 1934 - Nova Zelândia)