Consciência do Único Poder - JOEL S. GOLDSMITH


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Quando nos pedem ajuda, nossa primeira reação é o desejo de mudar a aparência do mal em aparência do bem. Entretanto, se quisermos viver espiritualmente, precisamo-nos compenetrar de que o objetivo do ministério espiritual não é mudar doença em saúde. A saúde é temporária, e a que temos hoje poderá converter-se em doença amanhã, na próxima semana ou no próximo ano. A finalidade do ministério espiritual não é condenar publicamente o mal e tentar fazer o bem. Seu objetivo é, antes de nada, ensinar-nos a desprezar as aparências boas ou más e manter-nos atentos ao Caminho do Meio, compenetrados de que precisamente onde parece encontrar-se o bem ou o mal, o que existe é a realidade do Espírito.

A má aparência de hoje poderá converter-se em boa aparência amanhã e, como bem sabemos, toda boa aparência pode logo tornar-se má. Um dia de paz na terra pode ser apenas a pausa momentânea que precede outra guerra; a saúde perfeita de hoje não passa de uma condição temporária que os micróbios ou o envelhecimento poderão mudar. Vistos humanamente, estamos como que num carrossel, sempre a rodar, rodar, rodar. Estamos sempre a oscilar como um pêndulo, entre a doença e a saúde, entre a pobreza e a riqueza, entre a guerra e a paz, para trás e para frente, sem chegarmos à parte alguma.

Mas no Meu reino não há pares de opostos. Meu reino é um reino espiritual, onde nada é tocado por influências contraditórias. Meu reino é dirigido e protegido pelo divino Princípio, ou Deus, que a tudo mantém e sustenta. No Meu reino não há trevas. Esta declaração parece dar a entender que as trevas sejam alguma coisa má. No entanto, quando alcançamos o Terceiro Grau, teremos chegado à estatura espiritual do Salmista, que disse: “as trevas e a luz são a mesma coisa para Ti”.

Trevas e luz são uma coisa só. Aos olhos de Deus não há diferença entre elas. No reino espiritual não há luz nem trevas: há somente Espírito, uma Luz que não tem semelhança alguma com o que conhecemos como luz.

Luz, em sentido espiritual, é consciência iluminada, não por uma luz, mas pela Sabedoria. A expressão “Eu era cego, e agora vejo” não se refere à cegueira ou falta de visão física. É um modo figurado de declarar que estávamos na ignorância, mas agora alcançamos a Sabedoria. Freqüentemente se representa a ignorância por trevas e a sabedoria por luz, mas, na realidade, não há trevas nem luz para aqueles que vivem acima dos opostos.

Requerem-se meses, e às vezes anos de experiência espiritual para se compreender que no Meu reino trevas e luz são a mesma coisa, e que neste reino não procuramos mudar as trevas em luz. Ou livrar-nos das trevas para obtermos a luz. Trevas e luz são uma coisa só.

Alcançar esta concepção representa grande salto para qualquer pesquisador, mas para o ignorante da sabedoria espiritual e não treinado em metafísica e misticismo, é salto, ainda maior, – um salto quase impossível – conceber ou aceitar a idéia que doença e saúde são a mesma coisa. Na realidade, não passam dos extremos opostos da mesma vara. Quando individualmente podemos afirmar com convicção que “pelo que me toca, trevas, ou luz, dá tudo no mesmo. Não estou tentando livrar-me de uma para obter a outra: estou procurando compreender somente a sabedoria espiritual, a verdade espiritual, a divina Presença” – então é que começamos a compreender a natureza espiritual deste Universo.

É quando tentamos livrar-nos de algo ou procuramos conseguir algo, que abandonamos o mundo espiritual em troca do mundo das concepções humanas. Nem doença nem saúde exercem qualquer papel na vida espiritual: tudo o que existe na vida espiritual é Deus, o Espírito, infinita e eternamente manifesto como ser individual incorpóreo.

O ser incorpóreo não pode ser conhecido por meio dos sentidos da vista, da audição, do gosto, do tato ou do olfato. Pode ser experimentado somente em nossa consciência interna, mas quando compreendemos e percebemos diretamente que trevas e luz são a mesma coisa. E o que é essa coisa? – Ilusão mortal, maya, aparência. Tudo o que percebemos através dos sentidos – doença e pobreza hoje, ou saúde e riqueza amanhã –, é ilusão. Não veremos a Realidade enquanto não contemplarmos o ser espiritual, incorpóreo, através de nosso sentido espiritual.

A revelação e compreensão da unicidade do Poder ajudam-nos a alcançar aquele nível de consciência em que já não procuramos converter o estado negativo em positivo. Quando nos conscientizamos da existência de um só poder, cessamos não só de procurar poderes materiais para prover às nossas necessidades, mas também de andar em busca de poderes espirituais.

Se existe um só poder, então nada há sobre o que, contra o que ou a favor do que, possamos usá-lo. Que quer isto dizer, em essência? Que significa alcançar um nível de consciência em que se abandona todo desejo de empregar Deus como uma força? Não será isto liberar a Deus de responsabilidades? Não será exatamente isto o que temos que aprender a fazer?

Eis a vida mística: não nos rejubilamos com a boa aparência humana, mas olhamos para além do bem e do mal, para além das aparências humanas, e contemplamos a natureza do Cristo. Podemos fazer isto. Todos nós podemos fazê-lo. É verdade que isto requer alguma disciplina, algum treino, porque o que estamos procurando fazer é superar os efeitos de centenas de gerações daqueles que nos deixaram como herança a crença em dois poderes. Estamos pondo de lado tanto o bem com o mal, para contemplar o que é o Espírito; estamos pondo de lado a saúde e a doença, a fim de nos identificarmos com o Cristo – nossa individualidade permanente em Deus.

Somente nossa individualidade espiritual de filhos de Deus nos permite comer do “manjar” que o mundo não conhece. Não é por sermos boas criaturas humanas que qualquer de nós pode proclamar-se “co-herdeiro com Cristo”, porque as boas qualidades humanas estão tão longe do céu quanto as más. Os escribas e fariseus eram o que havia de melhor entre os hebreus, eram os mais religiosos, os maiores adoradores do Deus único, os maiores protetores do templo. Ser bons, era a sua obsessão. Não obstante, o Mestre disse aos seus seguidores que a bondade deles precisava transcender a dos escribas e fariseus. Isso, humanamente, teria sido quase impossível, porque estes, praticamente, já haviam atingido a perfeição.

Verdadeira bondade depende de nossa capacidade de compreender que o Reino de Deus nos pertence em virtude de nossa identidade espiritual, e não de nossa bondade humana. Isso implica em sermos bastante corajosos para lançar fora os pensamentos relacionados com todas as nossas maldades do passado e do presente e, ao mesmo tempo, todos os pensamentos referentes à nossa bondade – e não em condenarmos o mal que tenhamos feito e tomarmos a nosso crédito o bem que tenhamos praticado –, e afirmarmos somente a nossa identidade espiritual em Deus. Nesta ligação com Deus, descobriremos que somos um com Ele, que somos co-herdeiros com Cristo de todas as riquezas celestes. Mas enquanto pensarmos que os nossos maus caminhos estejam nos mantendo afastados dessas riquezas, ou que o bem que pratiquemos esteja nos aproximando delas, estaremos em caminho errado.

Tão longe da Luz está o que crê que algum pecado, alguma desgraça temporária ou algum erro por ação ou omissão o separa de Deus, quanto aquele que acredita que sua bondade humana lhe esteja granjeando a graça de Deus. Ninguém alcança a graça de Deus apenas por sua bondade humana: a graça de Deus se alcança pela realização da identidade espiritual. Em reconhecendo nossa identidade espiritual, seremos espiritualmente bons sob todos os aspectos. Não há meio de se saber como essa bondade corresponde à bondade humana, mas a integridade espiritual vem somente através de nossa conexão com Deus, não como conseqüência de nossas boas qualidades ou de nossos sacrifícios ou esforços pessoais.

Nossas experiências humanas do passado e do presente, tanto boas como más, constituem o sonho mortal, mas, em nossa Alma, somos o Ser-de-Deus, isto é, somos criaturas divinas; em nossa Luz interna, somos filhos de Deus; nas profundezas de nosso ser interno, somos um com Deus; e temos um “manjar” que, embora possamos não ter conquistado ou merecido, recebemos por herança divina.

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