Abstraguar-me


Chuva que cai.
Em transparentes turbilhões.

A voz de cada gota em seu impacto divisor,
quando estilhaçam ao chão bonitas assim!
Divisor de águas...
Que em muitas particularidades, suas partes ínfimas molham-se às outras, olham-se gotas.
Recebem ali embaixo, todas que ali ainda cairão.

Quantas gotas podes ouvir?
Na abstração que me surge ao vento poético
que vaga a permear cada fio de chuva...
De cortinas chuvosas, pérolas silenciosas.
Calmaria suntuosa, adornada de seus trovões.
Na claridade do dia!

Na abstração de perder a conta das pérolas vivas eu me derramo ao silêncio de ser vasto.
Colar de contas, pérolas divinas me contam no pomar.
Então visto a voz tranquila a que me fala, me fala através de puras águas tão sinceras. Huum...

Me leva assim, com o pensamento em estado líquido,
e faz-me encher, um recipiente
à maneira suficiente.
É uma taça delicada, é o instante chamado. O próprio Agora.
Preenchido da Paz-sem-tempo. Que passatempo?
Sou o líquido intacto espelhado, sou o vidro que a água guardo, momento aguardado.
Contornado em mim o manto fino cristalino, sou eu Deus espelhado.

Água que aqui acalma, sem onda nem ruído.
Sem movimento não mais é pensamento,
Equidistante de palavras
Áquo-instante é o silêncio...


em silêncio . . .