A Catedrastral

Começou de repente, não havia o antes e ali estava eu a contemplar o fogo que pulsava em minha vazia memória. Tão de repente foi, que repentinamente deixou de ser, deixou o campo para repetir em mim, o mim que era o ponto quântico perfurado entre meus olhos e nada mais.
O Mim no instante que a testa era uma estante de estática estatura, estrutural estatueta, estranha entrada por onde saio-me, em mim no referente instante, de repente o cheio é minguante.

Continuou fluente, não havia o antes e ali estava eu a contemplar o fogo que pulsava em minha vazia memória. Fazia me molhar. Preencher um vaso a me morar!
Um fogo sonoro em chamas despertava os sonos, apertava os sons em fagulhas de não-tempo. Onde a velocidade não percorria espaços por tempo, pois não havia o antes, não havia outro espaço, não havia outro tempo, nem mesmo vento que coubesse no não-espaço.
E ali estava eu a contemplar o fogo...
O fogo que pulsava em minha vazia memória.

O chiado da chama que em mim ardia, me chamava pelo seu próprio nome, pois era eu a chama!
Foi quando então chamei-me.

Foi quando então arrebatei-me.
Quero dizer que fui arrebatado!
Completamente arrebatado.
Abrupta consciência de glória não-sensória...
Como uma consciência que navega extrema numa chuva de meteoros longínquos, arrebatando e rompendo limites, confundindo-se as risadas drásticas de um vislumbre ilimitante!
Iluminante. Já viu isso? Vai saber o que é.

A Natureza Eterna de uma voz flamejante, cuja alegria me regurgitou, brinca pelas montanhas celestiais. A natureza da voz, e por vezes também a Voz, que levanta de seu silêncio abarcando toda sua natureza manifestável.
Ela me abarca, eu não acabo.
Até então sou consciência, sou minha natureza.
Até então sou uma voz flamejante que levanta do silêncio.
Até então a Natureza Eterna me sou.
Sou as montanhas celestiais... No instante vou me abarcando no que é chamado de corpo.
Chama do corpo...

Foi quando então arrebatei-me.
Quero dizer que fui arrebatado!
Em pleno sorriso neste corpo enigmático...
Estou arrebatado pra onde estou agora mesmo.
Com o que é chamado pernas, com a chamada quantidade de coisas, duas delas, vou caminhando em cima de mim mesmo com a chamada noção de espaço e posição, respirando a mim mesmo alguma coisa do espaço. Olhando para mim mesmo. A todo redor. No interior deste superior, desde anterior.
Olho para meu tamanho, medindo a montanha próxima.
Ouço da montanha minha singela voz criadora vibrando pela extensão holográfica da qual faço o corpo registrar, em tons expandidos.
Ecoando para dentro de minha existência a voz se aproxima calmamente...

Sua ressonância assemelha-se a uma árvore, nascida da semente, que cresce, ramifica-se, floresce, dá a sombra fresca como um abraço confortável de Quem lhe gerou.
A Voz vai orquestrando cores, formas, materializando-se num corpo não-matéria. Talvez a matéria mataria-se em imensa metaformose.
A Voz é um corpo, é o meu corpo, é o corpo diante de meu corpo.
A Voz é o corpo de antes de meu corpo, e cá está cantando adiante, transparece os semblantes.

A Voz é Cor pura, a Cor põe corpos ricos, corpúsculos próprios.
Sinto minha voz derramar de mim para ela ao passo que espelhadamente, esplendorosa mente sou Cor respondido.

A Voz tornou-se Fogo, e claro, tornei-me fogo, o fogo que eu também já era. Um oco fogo, evacuando seu chamado, purificando minha luz.
Fui arrebatado, lançado em minha Presença por um rio em fino fio a queimar no fluir do fogo. Começou de repente, não havia o antes e ali estava eu a contemplar o fogo que pulsava em minha vazia memória.

E a Voz que não se ouve mas que houve, exclama:
- Sou seu nome, o Sinônimo da inominância em sutil imanência.

Eu, que nas chamas santificadas me banhava, chamava o imanente sem palavra:
- A palavra sem imanente o chamava para se banhar de pura presença... Sinonimando vou, sinonimando sou, refletindo seu Santo Nome na renúncia de pronúncia. A secreta pronúncia faz arrebatar a completa renúncia! Estás navegando por estas chamas de minha existência palavreira?

- Nas Nuances nado, nuas névoas nadifico, na secreta Observância, a Pronúncia por Mim só se faz, só Mim, somem então, na Dissolução. Na Renúncia para além das soluções. Só Luz Somos. Ouça, minha Voz diz: só luz somos, em dissolução da problemologia em busca do que ofusco é.

- Ofusco é o ego por onde navego. Percebo, persigo, per cego que na nua renúncia palavreira do navegante como eu, separo-me, se paro a me ditar, e palavras quebram-se. Nave ego. Venho viajar, o que vi já! E as palavras se q u e b r a m... navego por onde não vê ego. Na nave que carrego. Quem me navega é o trajeto, não é torto pois é reto, rumo a Mim que já está. Para nas Nuances com o Senhor nadar, e as nuas névoas nadificar!

- Eu lhe abarco na origem da coragem, na bem aventurança que os ventos trançam, permeando as nuances das próprias nuances, as nuances palavreiras, trançando em silêncio por suas vírgulas, seus instantes, seus buracos gráficos, e nos gratificamos. Absorva o Observador. Observa a dor, absorva a travessia e permaneça no ponto que interessa. Permanasça! No ponto que inteira essa... Por entre os dedos de minhas mãos cósmicas a poeira da vida e da morte desvanece, nesse nascer que cresce.

- Cresço de sua semente, dissolvendo-me na Voz que é Árvore, Ar Voz Rei, desaguando da Eterna Fonte, ó Eterna Consciência em reverência e celebração a Si Própria, a cantar sagrado nome, a Consciência Infinita em Mim é o Nome. Dissolver, diz o Sol ver-nos, o único enxergador através dos milhares de sóis. Quando ainda ando nos corpos em cores, meus dedos esfarelam-se na terra, esmarelam-se nos mares, nas marés, amar é linha, bem amarelinha no horizonte celestial, a linha da maré diz em amarelados tons, amar em lados igualmente, amar luz de suas luas nuas, todas tuas, que fluas e fluas de teu sagrado pedestal no central altar, sou centro ao entrar!

- Amado observador... Minha palavra flui na transcendência de seu centro, no templo, contemplar o que absorve, observa, ebsarvo, Abservo da observância, a nobre observidão. O Bem Ser Vida Aummm...
Aauummmm....
AAAAAAUUUUUUMMMMMMMMMM.....

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Começou de repente... Não havia o antes e ali estava EU a contemplar o fogo que pulsava em minha vazia memória.
Além da forma transformando, servindo à Força Una que propaga, sou SerAmor, sem tempo, deixei de ser um dia, uma vez deixei de ser mês, e insano deixei de SerUmAno. Quando o humano é Coração e interage com borboletas místicas, liberta-se, para o SerVir... As violetas conversam e as borboletas universam, e elas trocam e se remontam na pura possibilidade do impossível.
Lindas borboletas.
Tão Óbvias Letras!
Viu as Letras em fogo violeta...
Chamando borboletas...
Com semblante de planetas, sustentados por um Fio Vital, como contas de um divino colar existencial!

Amor (UCEM)

Existe uma experiência que acaba com todas as incertezas e todas as perguntas. A experiência do Amor é Divinamente Inspirada e imutavelmente Eterna. O Amor não vem e vai e nasce e se põe como o sol, nem brilha intensamente somente para desvanecer e desaparecer por um tempo. O Amor não é pessoal ou específico. É impossível Amar algo específico, porque o Amor é Íntegro e não conhece partes. O Amor não tem um oposto, sendo Tudo que Deus cria para sempre. A Mente Divina é Deus, é Amor, é Você, é Tudo.

Você nunca pode deixar para trás ou ser separado do Amor. Ilusões inevitavelmente desvanecerão, mas o Amor permanece Eterno e se estende continuamente para sempre. O Amor abrange tudo e não pode ser limitado. O Amor pode parecer temporariamente esquecido ou encoberto na consciência pela crença no tempo de forma linear. Entretanto o Instante Santo está sempre presente agora e sempre.

Deus é Amor. Deus, Sendo Amor, é Único e Abstrato. Deus, Sendo Amor, não toma formas diferentes ou vem em uma variedade de graus e graduações. Neste mundo parece haver muitos pensamentos, emoções e percepções que escondem a consciência do Amor. Contudo, são meramente tentações para esquecer que o Amor é Tudo que Existe. Toda vez que a tentação para negar o Amor surge, lembre-se que Você é Amor e Deus é Amor e nada pode separar a Unidade do Amor de Deus.

Deus, Sendo Amor, não tem opostos. Deus é Todo-Sabedoria, Todo-Poderoso e Todo-Amoroso. Ilusões trazidas para o Amor devem desaparecer, como a escuridão acaba na Presença da Luz. O Amor é Tudo como Deus é Tudo. Deus, Sendo Amor, não tem nada a ver com o medo. Deus, Sendo Amor, não tem nada a ver com doença, depressão, dor, tristeza ou qualquer forma que o medo possa tomar. Ilusões do tempo parecem colocar um véu na Face do Amor, mas o Amor permanece intocado. O Amor só pode ser Ele Mesmo e só conhece a Ele Mesmo. Amor e medo, Deus e o mundo, não têm um ponto de encontro. A consciência Una implica a não-existência de outra. Os cinco sentidos do corpo parecem enganar por um tempo, mas o Amor é revelado como Único e Tudo através da Visão Interior que o mundo não conhece. Ore sinceramente e deixe a sua prece ser um desejo unificado pelo Amor, por Deus. A Visão Interior conduzirá à lembrança do Amor que É Você e que É Deus, um Amor sem opostos.

O ego é faz-de-conta. Pode o faz-de-conta ser real se somente o Amor é real? Ego é opinião. Pode o Amor eterno e incondicional conhecer opinião? Ego é falsidade. Pode o Amor, sendo verdadeiro, ter consciência da falsidade? O Amor é verdadeiro e real e somente o amor é verdadeiro e real. O Amor é Único e, portanto, está além da “possibilidade” de comparação e transigência. O que pode a crença na dualidade, no passado e futuro ter a ver com o Amor Eterno? E o que poderia quebrar o Amor separando o que é Único para sempre?

O Amor Se estende, Sendo O Que Ele É. O Amor é Todo-extensão. Ao estender, o Amor permanece amoroso, pois o Amor permanece Ele Mesmo. Não há perda ou ganho no Amor, pois o Amor é completamente sem escassez ou limites. Conhecer o Amor é conhecer a completeza e a realização. Como poderia a Integridade algum dia entender alguma coisa senão Ele Mesmo? E o que o Amor poderia “precisar”, já Sendo Tudo para sempre?

Não questione o Amor. Se você acredita em questionamento, questione tudo que parece ser “não-Amor” e esteja disposto a aceitar somente Aquilo Que É Verdadeiro Para Sempre. Acabe com a espera agora! Aceite agora o Amor Eterno de Deus. O que mais poderia ser mais valioso do que a sua aceitação? Não há nada para buscar e nada para encontrar! Obrigado Deus por Ser Amor e estender Amor para sempre!

Forças Silenciosas (P. Brunton)

Na natureza, a soberania pertence às forças silenciosas.
A lua não faz o menor ruído e, não obstante, arrasta milhões de toneladas de água do mar no vai-e-vem obediente ao seu comando; não ouvimos o sol se levantar, nem as estrelas se ocultarem. Assim, a aurora da nova vida surge silenciosamente no homem, sem que nada a anuncie ao mundo.

Só na quietude pode o conhecimento do Super-eu manifestar-se. O deslizar da jangada mental sobre as águas do espírito é o prodígio mais suave que conheço, muito mais silencioso que o cair do orvalho noturno.

Somente em profundo silencio interior podemos ouvir a voz da alma; os argumentos a ocultam e o excesso de palavras a ensurdece e abafa. Ao apanhar o peixe, podemos reparti-lo, mas enquanto pescamos, o falar rompe o encantamento e afugenta o peixe.

Se conseguirmos dar menos atividade à laringe e maior atenção às atividades profundas da mente, chegaremos a ter algo realmente valioso a dizer. A palavra é um auxilio e não uma obrigação. SER é o primeiro dever do homem.

A vida nos ensina silenciosamente, enquanto os homens instruem em voz alta.

A preciosa descoberta do verdadeiro EU dentro de nós só pode ser feita quando a mente estiver em repouso; as palavras apenas confirmam a realidade, mas não a explicam e jamais a poderão explicar, pois a Verdade é um ESTADO DE SER e não uma torrente de verbosidade.

A essência do ego (E. Tolle)

A maioria das pessoas está tão identificada com a voz dentro da própria cabeça – fluxo o incessante de pensamento involuntário e compulsivo e as emoções que os acompanham – que podemos dizer que esses indivíduos estão possuídos pela mente.

Que se encontra inconsciente disso acredita que aquele que pensa é quem ele é. Essa mente é egóica. Chamo-a de egóica porque existe uma percepção do eu, em todos os pensamentos – lembranças, interpretações, opiniões, pontos de vista, reações, emoções. Isso é inconsciência, espiritualmente falando. O pensamento, o conteúdo da mente, é condicionado pelo passado: pela formação, pela cultura, pelos antecedentes familiares, etc. o núcleo central de toda atividade mental consiste em determinados pensamentos, emoções e padrões reativos repetitivos e persistentes com os quais nos identificamos mais intensamente. Essa entidade é o próprio ego.

Na maioria dos casos, quando dizemos “eu”, é o ego que está falando, e não nós, como temos observado. O ego compõe-se de pensamentos e emoções, de uma serie de lembranças que reconhecemos como “eu e minha história”, de papeis habituais que desempenhamos sem saber e de identificação coletivas, como nacionalidade, religião, raça, classe social e orientação política. Ele contém ainda identificações pessoais não só com bens, mas com opiniões, aparência exterior, ressentimentos antigos e conceitos sobre nós mesmos como melhores do que os outros ou inferiores a eles, como pessoas bem sucedidas ou fracassadas.

O conteúdo do ego varia de pessoa para pessoa, no entanto todo ego funciona de acordo com a mesma estrutura. Em outras palavras: os egos diferem apenas na superfície. No fundo, eles são iguais. De que maneira são semelhantes? Eles existem à custa da identificação e da separação. Quanto vivemos por meio do eu construído pela mente, que se constitui dos pensamentos e das emoções do ego, a base da nossa identidade é precária por que os pensamentos e as emoções são, por sua própria natureza, efêmero, instáveis.

Assim, todo ego está continuamente lutando pela sobrevivência, tentando se proteger e aumentar de tamanho. Para sustentar o pensamento do eu, ele precisa de algo oposto, que é o pensamento “o outro”. O “eu” conceitual não consegue sobreviver sem o “outro” conceitual. Os outros são sobretudo os outros quando os vemos como inimigos.

Numa extremidade da escala desse padrão egóico de consciência, situa-se o habito compulsivo de encontrar defeitos nas pessoas e nos queixarmos delas. Jesus referiu-se a isso quando disse: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão e não reparas na trave que está no seu olho?” no outro extremo da escalada, encontra-se a violência física entre indivíduos e guerras entre países. Embora, na bíblia, a pergunta de Jesus permaneça sem resposta, ela é sem duvida: porque quando critico ou condeno o outro sinto-me maior, superior.

A Respiração (E. Tolle)

Podemos descobrir o espaço interior criando lacunas no fluxo de pensamentos.
Sem elas, o pensamento se torna repetitivo, desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa - e é assim que ele é para a maioria das pessoas. Não precisamos nos preocupar com a duração dessas lacunas. Alguns segundos bastam. Aos poucos, elas irão aumentar por si mesmas, sem nenhum esforço de nossa parte. Mais importante do que fazer com que sejam longas é cria-las com frequencia para que nossas atividades diárias e nosso fluxo de pensamento sejam entremeados por espaços.

Certa ocasião alguém me mostrou a programação anual de uma grande organização espiritual. Quando a examinei, fiquei impressionado pela rica seleção de seminários e palestras interessantes. A pessoa me perguntou se eu poderia recomendar uma ou duas atividades. "Não sei, não. Todas elas me parecem muito interessantes. Mas eu conheço esta: tome consciencia da sua respiração sempre que puder, toda vez que se lembrar. Faça isso durante um ano e terá uma experiência transformadora bem mais forte do que a participação em qualquer uma dessas atividades. E é de graça."

Tomar consciência da respiração faz com que a atenção se afaste do pensamento e produz espaço. É uma maneira de gerar consciência. Embora a plenitude da consciência já esteja presente como o não-manifestado, estamos aqui para levar a consciência a essa dimensão.

Tome consciência da sua respiração...

Observe a sensação do ato de respirar...

Sinta o movimento de entrada e saída do ar ocorrendo em seu corpo.

Veja como o peito e o abdome se expandem e se contraem ligeiramente quando você inspira e expira. Basta uma respiração consciente para produzir espaço onde antes havia a sucessão ininterrupta de pensamentos.


Uma respiração consciente (duas ou três seria ainda melhor) feita muitas vezes ao dia é uma maneira excelente de criar espaços em sua vida. Mesmo que você medite sobre sua respiração por duas horas ou mais, o que é uma prática adotada por algumas pessoas, uma respiração basta para deixa-lo consciente. O resto são lembranças ou expectativas, isto é, pensamentos.

Na verdade, respirar não é algo que façamos, mas algo que testemunhamos. A respiração acontece por si mesma. Ela é produzida pela inteligência inerente ao corpo. Portanto, basta observá-la. Essa atividade não envolve nem tensão nem esforço. Além disso, note a breve suspensão do fôlego - sobretudo no ponto de parada no fim da expiração - antes de começar a inspirar de novo. Muitas pessoas tem a respiração curta, o que não é natural. Quanto mais tomamos consciência da respiração, mais sua profundidade se estabelece sozinha.

Como a respiração não tem forma própria, ela tem sido equiparada ao espírito - a Vida sem uma forma específica - desde tempos ancestrais. "O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida; e o homem se tornou um ser vivente." A palavra alemã para respiração - atmen - tem origem no termo sânscrito Atman, que significa o espírito divino que nos habita, ou o Deus interior.

O fato de a respiração não ter forma é uma das razões pelas quais a consciência da respiração é uma maneira eficaz de criar espaços na nossa vida, de produzir consciência. Ela é um excelente objeto de meditação justamente porque não é um objeto, não tem contorno nem forma. O outro motivo é que a respiração é um dos mais sutis e aparentemente insignificantes fenômenos, a "menor coisa", que, segundo Nietzsche, constitui a "melhor felicidade". Cabe a você decidir se vai ou não praticar a consciência da respiração como verdadeira meditação formal. No entanto, a meditação formal não substitui o empenho em criar a consciência do espaço na sua vida cotidiana.

Ao tomarmos conciência da respiração, nos vemos forçados a nos concentrar no momento presente - o segredo de toda a transformação interior, espiritual. Sempre que nos tornamos conscientes da respiração, estamos absolutamente no presente. Percebemos também que não conseguimos pensar e nos manter conscientes da respiração ao mesmo tempo.

A respiração consciente suspende a atividade mental. No entanto, longe de estarmos em transe ou semidespertos, permanecemos acordados e alerta. Não ficamos abaixo do nível do pensamento, e sim acima dele. E, se observarmos com mais atenção, veremos que essas duas coisas - nosso pleno estado de presença e a interrupção do pensamento sem a perda da consciência - são, na verdade a mesma coisa: o surgimento da consciência no espaço.

Meu Amigo - Khalil Gibran


Meu Amigo, não sou o que pareço. O que pareço é apenas uma vestimenta cuidadosamente tecida, que me protege de tuas perguntas e te protege da minha negligência.

Meu Amigo, o Eu em mim mora na casa do silêncio, e lá dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável.

Não queria que acreditasses no que digo nem confiasses no que faço – pois minhas palavras são teus próprios pensamentos em articulação e meus feitos, tuas próprias esperanças em ação.

Quando dizes: “O vento sopra do leste”, eu digo: “Sim, sopra mesmo do leste”, pois não queria que soubesses que minha mente não mora no vento, mas no mar.

Não podes compreender meus pensamentos, filhos do mar, nem eu gostaria que compreendesses. Gostaria de estar sozinho no mar.

Quando é dia contigo, meu Amigo, é noite comigo. Contudo, mesmo assim falo do meio-dia que dança sobre os montes e da sombra de púrpura que se insinua através do vale: porque não podes ouvir as canções de minhas trevas nem ver minhas asas batendo contra as estrelas – e eu prefiro que não ouças nem vejas. Gostaria de ficar a sós com a noite.

Quando ascendes a teu Céu, eu desço ao meu Inferno – mesmo então chamas-me através do abismo intransponível, “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada”, e eu te respondo: “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada” – porque não gostaria que visses meu Inferno. A chama queimaria teus olhos, e a fumaça encheria tuas narinas. E amo demais meu Inferno para querer que o visites. Prefiro ficar sozinho no Inferno.

Amas a Verdade, e a Beleza, e a Retidão. E eu, por tua causa, digo que é bom e decente amar essas coisas. Mas, no meu coração rio-me de teu amor. Mas não gostaria que visses meu riso. Gostaria de rir sozinho.

Meu Amigo, tu és bom e cauteloso e sábio. Tu és perfeito – e eu também, falo contigo sábia e cautelosamente. E, entretanto, sou louco. Porém mascaro minha loucura. Prefiro ser louco sozinho:

Meu Amigo, tu não és meu Amigo, mas como te farei compreender? Meu caminho não é o teu caminho. Contudo juntos marchamos, de mãos dadas.